Muita reza e pouca missa: romanização do santuário do Pai Eterno em Goiás
Maria Socorro de Deus
UFGO

A gradativa "desnacionalização" da Igreja no segundo período imperial ancorou-se na prática tridentina até então adiada na Colônia em conseqüência do padroado luso-brasileiro. Associado ao "Silabismo de Erros" e à "Infalibilidade Pontifícia", o catolicismo tridentino viera para ficar e arrumar a desordem religiosa informal e excessivamente leiga do povo. Em se tratando de popular, as romarias são exemplos perfeitos: geralmente nascidas de ermitérios, práticas devocionais domésticas e de diálogo direto entre o romeiro e o santo nas questões de promessas, milagres e ofertas representadas pelos votos.

Em Goiás, observamos o emprego da romanização na santuário do Divino Pai Eterno em versões genéricas. A visita episcopal de D. Eduardo Silva em 1891 vai encontrar uma romaria legitimamente ao gosto do catolicismo popular: peregrinações, promessas sendo cumpridas das mais variadas formas, infinita fila para o beijamento do santo passando pelo desprestígio da leiga Irmandade do Divino Pai Eterno, sem deixar de observar a festa de rua francamente profana com os jogos, bailes e bebidas. A resposta do bispo foi taxativa no empreendimento moralizador da população com críticas e policiamento às festas "de rua" seguindo de advertências a fiéis bem como na ortodoxização dos cultos: fim às conversas na igreja, veto de confissões às mulheres de trajes e penteados impróprios, críticas às promessas e votos, impedimento de comunhão aos casais em concubinato ou unidos pelo casamento civil. Enfim, o novo controle católico – romano exige comportamento moral e religioso padronizado sem levar em conta as peculiaridades histórico – regionais da cultura doméstica e rural do centro – Oeste brasileiro.