CONTRIBUIÇÕES PARA ESTUDO DA HISTÓRIA DA RELIGIÃO JUDAICA

Ivan Esperança Rocha

UNESP – Assis SP

No último século, a descoberta e decifração de uma ampla documentação proveniente, particularmente, da Mesopotâmia e Egito, evidenciaram inúmeras aproximações entre o judaísmo e as culturas antico-orientais. Até então, a documentação contida no Antigo Testamento tinha sido a principal e quase que única fonte para a compreensão da sociedade israelita pré-cristã.

As descobertas permitiram uma visão mais abrangente da documentação israelita, multiplicando os pontos de vistas e enriquecendo a compreensão sobre a sociedade israelita.

Dentre os textos bíblicos que se beneficiaram desta ampliação de visão estão os documentos sapienciais. A ausência de fontes extrabíblicas, somada a estereótipos hermenêuticos ocasionaram uma compreensão deformada e restrita da origem, abrangência e significado da hokmah.

A este respeito podemos citar a imprecisão da vinculação da hokmah com a corte salomônica e da determinação da datação e autorias dos documentos a ela atinentes. A crítica dos documentos revela neles a presença de um entrelaçamento de elementos míticos e lendários. De fato, apesar de a sabedoria apresentar-se como fruto do logos, nas suas personalizações, como no caso de Salomão, cede espaço ao mythos, o que dificulta uma abordagem estritamente histórica da documentação sapiencial atribuída à corte.

Esta comunicação pretende avaliar a relação entre monarquia e sabedoria a partir de evidências internas aos documentos anticotestamentários, proporcionadas pelos documentos extrabíblicos, evidenciando a hokmah como um fenômeno cultural que Israel compartilha com o ambiente que o cerca e que deve ser analisado como um aspecto ligado mais à mentalidade de um povo que de um determinado grupo — no nosso caso os escribas da corte israelita e, particularmente, daquela de Salomão.