Características do Islã em Cuiabá:
Reclusão e Conversão na busca da fé ideal
por Diego Freitas Rodrigues (UFMT)
Resumo: Este presente trabalho, que é parte constituinte de um projeto de pesquisa por mim realizado, visa estudar o processo de formação da comunidade muçulmana em Cuiabá, sendo os primeiros constituintes de tal comunidade os imigrantes que em Cuiabá chegaram por volta da década de sessenta e os descendentes destes que na cidade ainda estão, e verificar as características desta comunidade. No que concerne a tais características, dar-se-á a pesquisa em estudar os elementos de gênese desta comunidade e a interação com a sociedade de Cuiabá, sendo que tais elementos serão observados em relação a uma possível reclusão da fé islâmica ao seio da própria comunidade contrariando desta forma o pressuposto Corânico de conversão dos povos e procurando saber, através disto, se existiria alguma relação entre esta reclusão da comunidade e o baixo índice de indivíduos convertidos ao Islã naturais de Cuiabá . Desta forma, este trabalho apresenta-se em andamento e não possui ainda uma conclusão acerca da problemática já levantada .
Introdução
Friedrich Nietzsche ( 1844 - 1900 ), em 1882, em A
Gaia Ciência apresenta a história de um louco adentrando um mercado e, de forma
desesperada, gritando pelo paradeiro de Deus. A resposta daqueles que estavam
no mercado gerara outra indagação: " Acaso terá fugido ? ". Conta-se
que o louco respondera: " Para onde Deus foi ? " e continuara : "
Nós o matamos - vocês e eu ! " Era o decreto popular, disfarçado de
filosófico, da morte de Deus.
Tal história nos mostra, através da alegoria, o
contexto histórico vivido por Nietzsche e a sociedade ocidental na segunda
metade do século XIX. A Ciência do século XIX, herdeira dos pressupostos
empiricistas de Bacon, apresentava-se como único meio de se conhecer a verdade
e esta ciência e o racionalismo nela empregada permitiam a religião apenas este
caminho( já que decretara a morte do antigo modelo, ou seja, do padrão que
aquele Deus morto representava e sua forma religiosa característica de fé
absoluta num absoluto não apreciável e nem racionalmente elaborado ) para que
ela pudesse ser levada a sério pelo homem moderno.
O final do século XIX celebrava as conquistas da
modernidade, todas advindas da ciência, mas causava aos homens e mulheres a
sensação do vazio, uma sensação que os fazia experimentar insegurança e como
atestado conceitualmente por Karen Armstrong, a partir das considerações de
Jean Paul Sartre, como :
" ... o buraco em forma de Deus deixado na
consciência dos seres inteiramente racionais ". ( Armstrong, 2001: 167 )
Relegada a segundo plano, na instância do que é
confiável como instrumento para se conhecer a verdade, a religião se "
cientifizara ", ou seja, os teólogos procuraram justificar todos os
conceitos bíblicos como algo racionalmente considerável. Mas para os fiéis na
igreja a sensação que percorria suas fileiras era de insegurança, mesmo de
insignificância, já que a ciência até mesmo tirara do homem a exclusividade
deste na criação ( um conceito também questionado ) outorgando-o agora a um
papel de simples símio evoluído.
E a ciência da segunda metade do século XIX, agora
não somente investigando a natureza, passara a também a estudar , sistematizar
e classificar o homem em sua cultura e, principalmente para o viés deste
trabalho, a religião. E a Antropologia, surgindo como uma ciência "
justificadora " do neocolonialismo europeu na África e Ásia, estava muito
presente na discussão teológica. Muitos pensadores, na segunda metade do século
XIX, eram necessariamente antropólogos amadores. ( Douglas: 1976, 24 )
Neste caso a " ponte " que ansiavam os
teólogos, ou seja, a aliança entre a ciência e a religião, construía-se pelos
" métodos científicos " utilizados na pesquisa sobre o homem e a
religião, a ciência revelava-lhes então, através dos estudos dos mesmos "
antropólogos amadores " como Frazer ou Robertson Smith com povos "
selvagens ", que assim como existiam sociedades avançadas e primitivas,
existia necessariamente também religiões avançadas e primitivas, um pressuposto
positivista que a esta época norteava a metodologia científica das ciências
humanas e sociais.
Obviamente estes padrões de " civilizado "
e " primitivo " se deram em um discurso " científico " que
visava promulgar por tal pressuposto ( a ciência e seu rigor ) a superioridade
dos padrões culturais europeus e sua religião, o cristianismo. Este mesmo
cristianismo que encontrava-se " enfraquecido " diante das elites
intelectuais, mas que mantinha-se fortalecido em seus seios comunais tanto na
Europa quanto na América do Norte além, é claro, da América Latina que afora
seus círculos restritos de intelectuais talvez nunca tenha presenciado, na
crença de sua grande população, ataques da ciência a sua forma de religião e
religiosidade.
Mas estava o Cristianismo " salvo ", em
seus ditames espirituais, da ciência fruto da modernidade ? Acreditava-se que a
religião continuaria a existir em seu aspecto anterior ao contexto histórico do
século XIX, com a urbanização crescente advinda da segunda revolução industrial
?
Absolutamente que não. Havia claramente nos modelos
teóricos de cientistas sociais a crença de que esta modernidade ( especificando
a crescente industrialização e os processos migratórios campo/cidade ) causaria
a " morte " do aspecto religioso no homem.
A Escola de
Chicago ( W.I. Thomas, R. Park, E. Burguess, R. Mackenzie ) de Antropologia,
acreditava, através de seus estudos, que o crescente " enchimento "
urbano causaria a separação dos laços sociais que mantinham os vínculos
necessários para a caracterização do padrão religioso cristão de comunidade (
visto que tais estudos versavam sobre populações urbanas de origem cristã e não
tratavam de estudos elaborados sobre comunidades judaicas, por exemplo ). A
vida em cidade causaria a secularização desta vida religiosa gerada, portanto
de uma conseqüência " natural " do processo de urbanização. Era o fim
da religião como havia " previsto " Comte com sua teoria de estágios
evolucionários sociais, ou seja, a terceira desta fases havia chegado e não
haveria mais como haver " vida " para a religião. Apenas ciência.
Wirth, um dos membros da Escola de Chicago de maior
expressabilidade, apontava o fato de que pelo estabelecimento de cidades isto
necessariamente implicaria em uma outra forma cultural, onde haveria um grande
isolamento do indivíduo além de relações sociais de cunho transitório e mesmo
acrescentado a anonimato e superficialidade. Tal direcionamento acabaria por
conduzir a " quebra " da comunidade, enquanto meio essencial para
controle e manutenção do fiel da religião. Na Escola de Chicago comunidade é
compreendida como :
" ... o resultado de relações simbióticas, ao
passe que sociedade depende da comunicação entre seus membros que compartilham
atitudes, sentimentos, idéias comuns. " ( Magnani, 1996: 24 )
Desta forma previa-se, por parte da ciência do final
do século XIX e início do século XX, no desgaste da religião e no
enfraquecimento cada vez maior desta com o passar do tempo.
Ledo engano. Não bastaram Durkheim acreditar que os
aspectos de integração religiosos estariam sob ameaça da divisão social do
trabalho e desta forma a ciência acabaria tomando seu lugar e nem Max Weber
assinalar o processo de secularização racional que denominou como " o
desencantamento do mundo " para que a religião continuasse a existir no
ocidente e mesmo crescesse.
E é justamente por este fator que o trabalho em
questão se enveredará. Como no Brasil, que faz parte deste ocidente
racionalizado e secularizado e que também sofrera o enchimento de suas cidades,
mantivera a religião como parte constituinte dos laços sociais, e de cunho
fortificado e não fraco como previam os cientistas sociais da segunda metade do
século XIX e início do século XX, mesmo que esta ( a religião ) sofra de
mutabilidade com o movimento migratório campo/cidade. Mas, para o presente
trabalho, não é somente a verificação de adaptabilidade da religião frente ao
aspecto urbano e suas exigências que o trabalho frisará. Será no aspecto de
atração exercido pela religião islâmica, uma religião que prega e exige da
parte do fiel o apego aos valores mais tradicionais criados por uma sociedade
do século VII na Arábia e que diante da modernidade é vista como algo "
retrógrado " e não progressivo, sobre os nativos da cidade fruto da
pesquisa, Cuiabá, que o trabalho procurará observar o papel da religião, e no
caso uma religião " alheia " e mesmo considerada pelos locais como
" exótica ", sobre suas vidas e a interação da comunidade que a trouxe
e estes que se aproximaram dela.
O Islã no Brasil e a Formação da comunidade
muçulmana em Cuiabá
Acompanhando a discussão teórica acerca do "
enfraquecimento" da religião na cidade o Brasil não encontrou-se fora
deste foco e alguns autores sugeriam que o capitalismo intensificado neste
século XX estaria por causar um declínio do catolicismo de folk entre a
população urbana.( Oliven,1987: 42 )
Todavia, para se especificar no objeto deste
trabalho, a modernidade absolutamente não " eliminara " a religião e
sim fê-la adaptar-se as novas problemáticas do homem urbano. É neste contexto
que o Islã surge não como uma religião de cunho étnico e sim como uma religião
de conversão ( mesmo que em Cuiabá este fato, tão relevante para o Islã, seja
motivo de indagação para o fomento da pesquisa ), como o cristianismo, o
próprio judaísmo e o budismo - se é que pode ser este considerado como religião
revelada no sentido das religiões abraâmicas.
Indubitavelmente, para se apresentar o Islã no
Brasil, devemos nos reportar a dados estatísticos realizados em diversos
momentos da história do Brasil neste século XX ( procurou-se por opção não
realizar conexões deste trabalho com estudos de escravos africanos muçulmanos
no Brasil setecentista, principalmente na Bahia, e no período do Brasil do
século XIX que tinha em seus mascates muçulmanos praticantes da fé, visto que
tais estudos não comportariam as devidas reflexões acerca da problemática deste
trabalho ).
A Historiadora Neuza Neif Nabhan estuda este
processo de expansão do Islã no Brasil:
" No censo de 1940, foram estimados 3.053
praticantes de Islamismo, dividido entre 2.269 do sexo masculino e 748 do sexo
feminino. Esses muçulmanos encontram-se espalhados por todos os estados
brasileiros, com maior concentração em São Paulo ( 1.393 ), e Rio de Janeiro (
831 ). No recenseamento de 1950 e 1960, a avaliação foi realizada por grupos de
idades ( homens e mulheres ). Em 1950 o número de muçulmanos aumentou para
3.454 ( 2.490 homens e 964 mulheres ). [ ... ] No Censo de 1960, foram
identificados 7.745 muçulmanos ( 5.150 homens e 2.595 mulheres ). [ ... ] Esses
dados censitários, referentes a evolução dos muçulmanos no Brasil, coincidem
com o processo da imigração árabe [ ... ]. A partir de 1970, os muçulmanos
foram agrupados no item outras religiões dificultando as informações. " (
Nabhan, 1996: 119 - 120 )
A imigração sírio-libanesa ao Brasil dera-se,
especialmente, após a Segunda Guerra Mundial, primeiramente em Santos, e de lá
se espalhando pelo Brasil e como atesta Maria C. Mendes Fernandes da Fonseca:
" ... inclusive pelo Centro-Oeste, nas regiões
de Campo Grande, Corumbá, Cuiabá e Cáceres. " ( Fonseca, 1999: 09 )
Estes
imigrantes sírio-libaneses teriam chegado à Cuiabá por volta dos anos
cinqüenta. O censo demográfico de 1960 do IBGE aponta a entrada, em Cuiabá, de
352 homens e 171 mulheres advindos do Líbano enquanto a Síria teria um
contigente migratório de 175 homens e 79 mulheres. Este disparate estatístico
entre a presença masculina e a feminina deu-se, precisamente, pela atração que
Cuiabá exercia no imigrante sírio-libanês de ser a cidade um Eldorado, onde
achava-se ouro pelas ruas, causa que fez muitos virem para a cidade solteiros
para aqui " fazerem a vida ". De acordo com o IBGE, no recenseamento
de 1960, foram encontrados 170 muçulmanos e 53 muçulmanas na cidade.
Entretanto, já no recenseamento de 1970, segundo o próprio IBGE, havia um
número total de 432 muçulmanos e 388 muçulmanas. Conclui-se que a imigração não
cessara e o nascimento dos filhos destes primeiros se dera elevando portanto a
taxa de indivíduos da comunidade, mas nada versa estes dados acerca de
convertidos visto que estes muçulmanos caracterizados nos dados do IBGE eram os
próprios imigrantes ou os filhos destes e nada constando de nativos da cidade
que converteram-se ao Islã.
A comunidade muçulmana se sedimentara na cidade e
estabelecera boas relações com os nativos. Prova-se a boa relação entre os
nativos, de imensa e esmagadora maioria católica e só poucos protestantes e de
outros segmentos religiosos, e a comunidade islâmica é a oferta desta última de
um relógio exposto na Igreja da Matriz, à época recentemente reconstruída.
A Mesquita, principal local de agregação de uma
comunidade muçulmana, de Cuiabá tivera sua pedra fundamental lançada em 10 de
Agosto de 1975 e sua inauguração acontecera no dia 16 de Julho de 1978. E seria
ela ( a Mesquita ) a desempenhar o fator central do aspecto coletivo e
individual da comunidade, de culto, de festividades e regulamentação dos
princípios éticos de normatização do indivíduo e da comunidade.
Não há dados que atestem um clima de desarmonia
entre os nativos e a comunidade muçulmana de Cuiabá. Aparentemente a
preservação de sua cultura, valores, língua e religião fizera da pluralidade
cultural um meio de convivência para ambos os aspectos sociais, de nativos e de
imigrantes.
Reclusão ou Propagação?
Antes de iniciadas as pesquisas acerca da presença
islâmica em Cuiabá tinha em mente que encontraria um grande número de
convertidos a esta fé e que um trabalho sobre processos de conversão em uma relação
dicotômica sagrado - profano se daria " de forma tranqüila e sem mais
preocupações. Errado. Ao iniciar a pesquisa com dados estatísticos da população
de imigrantes e descendentes, em diversos momentos do século XX até a época
atual, como demonstrei neste trabalho havia uma clara noção metodológica de
separar os grupos que se formariam na pesquisa ( os de imigrantes e
descendentes e o grupo que seria classificado de convertidos locais ) para
verificar o papel da religião na formação de vida dos convertidos mas o que
revelara-se era a baixíssima taxa de conversão ao islamismo em Cuiabá em mais
de quarenta anos de existência da comunidade muçulmana na cidade.
A baixa taxa de convertidos por mim levantada ( ao
total apenas seis indivíduos ) dera-se através de pesquisa de campo com os
praticantes da fé, já que os dados do IBGE e outros órgãos de estatística não
separam em seus questionários se o praticante da religião é convertido a fé ou
a religião a qual pertence é de cunho familiar. A descoberta deste fator fez-me
crer em uma incoerência em tal índice de casos de conversão, visto que o Islã
se caracteriza como uma religião de conversão.
O que haveria levado a tal reclusão da fé há apenas
a comunidade de imigrantes sírio - libaneses ?
Diante desta, a priori, reclusão do Islã à
comunidade que o havia trazido a estas terras, procurei, antes de estudar os
casos de conversão, verificar este " fechamento " dos fiéis do Islã à
sociedade cuiabana. Medo ? Indiferença ? Ou uma orientação de líderes religiosos
em não pregar o Islã na cidade?
Absolutamente desconhecia-se tal resposta. Apenas a
pesquisa de campo poderia " clarear " tais matrizes indagativas.
Manuela Carneiro da Cunha, a partir de uma perspectiva da Antropologia Social,
afirma que :
" Grupos étnicos distinguem-se de outros
grupos, por exemplo, de grupos religiosos, na medida em que se entendem a si
mesmos e são percebidos pelos outros como contínuos ao longo da história, provindos
de uma mesma ascendência e idênticos malgrado separação geográfica. Entendem-se
também a si mesmos como portadores de uma cultura e tradições que os distinguem
dos outros. " ( Cunha, 1986: 117 )
Tal pressuposto elaborado por M. C. da Cunha apenas
fazia-me reforçar a percepção de que o aspecto étnico reclusivo destes
imigrantes sírio - libaneses, que buscavam preservar uma identidade, fazia-se
preponderar sobre o aspecto islâmico de propagação da fé. Havia uma fronteira
entre a comunidade muçulmana e os não-fiéis, sendo que tal fronteira
caracterizava-se na percepção da comunidade de seu papel na cidade de não
causadora de um desequilíbrio no meio sócio - religioso, onde " campanhas
de divulgação " da mensagem islâmica através de sua Sociedade Beneficente
Muçulmana e quaisquer outros meios não seriam incentivadas para a conversão de
nativos para o Islã. Uma política da boa vizinhança. Como demonstrei, esta
política existira entre a comunidade muçulmana e a população local, com a
doação do relógio para a Igreja da Matriz.
A minha
pergunta era : " Existiria um ' pacto ' realmente ? e ainda : " E se
existia, como se dera a aproximação destes convertidos em meio a tal ' pacto '
? "
A realização desta pesquisa iniciou-se com o contato
que eu possuía com um filho de um muçulmano da cidade, que todavia era católico
e filho de mãe católica e que aqui chamarei apenas de Flávio, que além de
Flávio possuía outros três filhos, sendo estes muçulmanos e filhos de mãe
muçulmana, que prontamente se dispusera a me apresentar a um de seus irmãos,
Ibrahim ( nome ao qual eu o designarei ), para que este pudesse me auxiliar no
trabalho de tradução de entrevistas que pudessem vir - a - ser em árabe e,
principalmente, para contatar os convertidos e os mais antigos membros da
comunidade assim como de indivíduos que pudessem exercer o papel de expoente da
comunidade no " mundo exterior ".
Após o primeiro contato em que expus as minhas
intenções de pesquisa e da boa aceitação de Ibrahim para com elas, decidi
construir o percurso a se fazer na pesquisa, já que houvera uma necessidade de
reformulação do objeto de estudo. Primeiramente optei por entrevistar dois
membros mais antigos da comunidade, em seguida haveria uma entrevista com
alguns expoentes da comunidade e por
fim as entrevistas com os convertidos. A convivência com estes últimos se daria
já em uma fase última da pesquisa.
Nas entrevistas que se deram com os dois senhores
que identificarei como Mohammad Kabari e Samir Abdulah pedi informações
relativamente simples como nomes, detalhes de acontecimentos importantes para
com a comunidade muçulmana de Cuiabá, de locais para que o informante tivesse a
oportunidade de visualizar circunstâncias além de acontecimentos para que
houvesse uma vivenciação de tudo aquilo de novo e desta forma passando a
expressar suas percepções acerca de valores, ideais etc.
Não há de se negar que há uma forte tendência a uma
subjetividade na relação de trabalho com memórias individuais, visto que a memória
possui um caráter singular já que é construída sobre o olhar do presente e além
de ser um ponto de vista.
Durante as entrevistas com Mohammad e Samir, ambos
senhores já por volta dos setenta anos de idade, nada houvera que transparecesse
um sentido de reclusão da fé enquanto agentes muçulmanos de propagação da
mensagem contida no Corão, sendo que eles próprios consideravam-se bons
muçulmanos. Acreditavam que o Islã ainda reconduziria toda a humanidade de
volta a Deus. Mas no que concerne a dados e conhecimento de convertidos ao Islã,
naturais de Cuiabá, eles pareceram ter pouco conhecimento de causa. Aqui há um
trecho do depoimento de Samir traduzido do árabe por Ibrahim :
" Nossa preocupação era em fortalecer a
comunidade primeiro, fazer com que não perdessem a prática da religião."
Mas até onde manteve-se esta preferencia até mesmo
plausível para a manutenção da comunidade e começou a reclusão da fé destes
mesmos ?
Neste momento a pesquisa acerca da presença islâmica
em Cuiabá ainda se desenvolve e pretende levar a cabo a solução das indagações
acima apontadas. Desta forma o conteúdo apresentado neste trabalho é parcial no
sentido de reconhecer a vastidão do tema e o pouco tempo disponibilizado para
com este. Todavia, as diretrizes teórico - metodológicas encontram-se norteadas
para a realização completa da pesquisa e espera-se, para a conclusão desta, que
o tema não seja considerado esgotado, ao contrário, seja sim considerado como
fomentador de novas perspectivas para o estudo do Islamismo no Brasil e em
Cuiabá especialmente.
Referências bibliográficas
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Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no
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Companhia das Letras, 2001.
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Petrópolis: Ed.Vozes, 1992.
Nabhan, Neuza Neif. Islamismo de Maomé a nossos
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Naipaul, V. S. Entre os fiéis: Irã, Paquistão,
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Naipaul, V. S. Além da fé: Indonésia, Irã, Paquistão,
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Companhia das Letras, 1999.
Oliven, George Ruben. A aventura antropológica de
grupos urbanos. Petrópolis :
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Torres, Lilian de Lucca, Magnani, José Guilherme C.
( org. ). Na Metrópole : tex-
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da Universidade de São Paulo,
Fapesp, 1996.
Bibliografia
complementar:
Fonseca, Maria Cristina Mendes da. A Presença Islâmica em Cuiabá (1960-
1999). Projeto de Pesquisa apresentado ao
Departamento de História do
Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de
Mato
Grosso, como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciatura
Plena e Bacharelado em História. Orientador : Professor Vitale Joanoni
Neto.
( não publicada ), 1999.