Religiosidade no seringal
Maria Liege Freitas Ferreira
Unesp – Assis

Religião e migração encontram-se imbricadas por suas próprias histórias. O Cristianismo e o Islamismo por exemplo são religiões que encontraram nas populações migrantes seus seguidores. O sagrado, as representações religiosas, funcionam, portanto, como canais nos quais a consciência migrante procura explicar e suportar a realidade vivida. Todavia, quando esse migrante não consegue encontrar suas manifestações religiosas no "novo" lugar de morada, o sagrado se reveste de representações "soltas" do Cristianismo clerical, isto é, passam a ser conduzidas segundo as orientações de um "iluminado", assim ocorreu (e ainda ocorre) nos seringais amazônicos desde a colonização. Na Amazônia, região distante não havia sacerdotes suficientes para pregar o Cristianismo, a miscigenação cultural do migrante com o índio e com o caboclo amazônico trouxe em seu bojo também a assimilação de rituais que passam a fazer parte das manifestações religiosas que vão nascendo. Na grande maioria dos seringais não havia igrejas ou capelas, as festas religiosas cristãs eram conduzidas por "escolhidos" no seringal por sua devoção ardorosa a Deus raramente era trazido um padre, as distâncias das sedes paroquiais eram enormes. Sozinhos , esquecidos e desiludidos com suas situações, o migrante e as populações ribeirinhas respondem com a proliferação de seitas nascidas na floresta: o Santo Daime, União Vegetal, Sairé e outras são exemplos. Todas são rígidas e com regras fixas em seus rituais, o sagrado é representado através de deuses da floresta nos quais o Espírito Santo envia mensagens.