D. João Becker e o nacionalismo

René E. Gertz*
Pucrg e Ufrs

Dentro do processo que os historiadores costumam chamar de "restauração católica", iniciada no Rio Grande do Sul em torno de 1860[1], cabe papel de destaque a D. João Becker, que governou a arquidiocese de Porto Alegre de 1912 a 1946[2]. Ele nasceu em 1870 numa pequena localidade do município de Sankt Wendel, na Alemanha, mas quando lhe perguntavam sobre o local de nascimento costumava responder que era de São Vendelino, então distrito do município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Ao contrário do que se poderia imaginar, não estava, porém, traduzindo o nome do local de seu nascimento para o português. O que fazia, de fato, era praticar uma bem consciente distorção histórica. Para as posições que adotou ao longo de sua vida não convinha admitir que nascera na Alemanha, pois isso o transformaria em mero brasileiro "adotivo"[3].

Em artigo datado de 1925 o pastor Hermann Dohms, a principal liderança intelectual do Sínodo Riograndense, a organização eclesiástica que congregava a maioria dos luteranos do Rio Grande do Sul[4], escreveu que a aproximação entre catolicismo e nacionalismo no Brasil datava dos anos da Primeira Guerra, momento a partir do qual se fez sentir uma crescente presença do protestantismo americano no país. Mesmo que o número de adeptos de confissões religiosas provenientes dos Estados Unidos não registrasse um crescimento vertiginoso, aumentou substancialmente a atividade de movimentos como a Associação Cristã de Moços e, sobretudo, o número de escolas mantidas por essas denominações. Dohms baseava sua conclusão, entre outras, numa manifestação do bispo D. Silvério, de Mariana, Minas Gerais, que em uma carta pastoral de 1921 afirmara: "Proteger, de qualquer forma, a doutrina protestante constitui crime contra a fé e traição à pátria". Por outro lado, movimentos nacionalistas brasileiros - como a Liga Nacionalista de São Paulo, por exemplo[5] -, em expansão na época, enxergariam na doutrina e na prática da Igreja Católica um potencial aglutinador do povo da supostamente desarticulada pátria brasileira. Na revolução de 1923 no Rio Grande do Sul o presidente da República, Arthur Bernardes, e os nacionalistas paulistas teriam apoiado Assis Brasil, o primeiro, porque Borges de Medeiros havia ficado do lado do anti-religioso maçom Nilo Peçanha, os segundos, porque detestavam o independentismo gaúcho. D. João Becker teria divisado aí uma boa oportunidade para entrar no jogo e obter dividendos. Teria estabelecido contatos com os revolucionários e no auge da guerra civil feito uma viagem ao Rio de Janeiro, onde teria conseguido que os jornais começassem a festejá-lo como mediador da luta no Rio Grande do Sul. A partir desse momento, Becker se teria atirado de corpo e alma à construção do "catolicismo político"[6].

D. João Becker, por essa época, já podia apresentar uma considerável lista de serviços prestados à causa do nacionalismo brasileiro, que começara a ser composta, o mais tardar, durante a Primeira Guerra Mundial. Uma parte significativa do catolicismo gaúcho era constituída de imigrantes e descendentes de alemães, de italianos e de poloneses[7], e foi sobretudo contra os primeiros que o fervor nacionalista do arcebispo se voltou, baixando em 1917 uma série de determinações no sentido de que cessassem os ofícios religiosos em língua alemã nas igrejas e se acabasse com o ensino nessa língua nas escolas comunitárias católicas[8]. Determinou que o tenente Alcides Rodrigues de Souza ministrasse instrução militar aos alunos do colégio jesuítico de São Leopoldo[9]. Interveio, de forma cirúrgica, na Igreja São José "dos alemães" de Porto Alegre, retirando da comunidade os direitos paroquiais; a comunidade, inconformada, recorreu ao papa contra essa medida, estabelecendo-se uma longa pendenga, que só em 1925 foi decidida em favor dos queixosos, mas apenas em 1926 o arcebispo se dignou a restituir os direitos que havia cassado 9 anos antes[10]. Questionado, nesse contexto, por Alberto Bins, respondeu que era "aliadófilo", que os colonos alemães não passavam de uma "massa estúpida" e que a imigração alemã não havia trazido ao Rio Grande do Sul outra contribuição do que o protestantismo, o kantianismo e as cervejarias[11].

Becker, no entanto, não se restringiu a ministrar lições de brasilidade aos católicos de descendência alemã do Estado. Seu fervor patriótico levou-o a assumir posição de destaque na seção gaúcha da Liga de Defesa Nacional, tornando-se seu secretário. E o fervor patriótico o acompanhou nos anos seguintes. Em 1924, por exemplo, publicou uma carta pastoral sobre a "Crise do poder temporal", na qual foi efusivo, utilizando-se, inclusive, de uma adjetivação que denotava um português digno de um verdadeiro brasileiro: "Haverá alguém entre nós que não deseje a grandeza da Pátria, a prosperidade da Nação, a glória imarcessível do Brasil?"[12].

O "catolicismo político" de que falava o pastor Dohms caracterizou-se por uma intensa mobilização interna da igreja e por uma presença marcante na cena política. Em 1921 Becker lançou a pedra fundamental da catedral de Porto Alegre, que deveria ficar pronta até o centenário farroupilha em 1935. Essa obra abriu grandes espaços na imprensa profana e na imprensa eclesiástica, constituindo-se em importante instrumento de mobilização católica. O livro de ouro, no qual eram lançadas contribuições para a obra, foi assinado por pessoas de destaque da política, da economia, das profissões liberais, da cultura. Padres especialmente designados para a tarefa viajavam pelas comunidades do interior incentivando os paroquianos a dar sua contribuição[13]. Em 1924 se constituiu oficialmente o Centro de Boa Imprensa, na verdade uma empresa para municiar todo esse movimento com livros, jornais e revistas. Destacaram-se, nesse sentido, além de livros litúrgicos e de leitura edificante, o reinício da publicação de um jornal eclesiástico, Estrela do Sul - paralelo ao órgão oficial da arquidiocese, Unitas - bem como um almanaque anual com o mesmo nome. Para o público mais intelectualizado foi fundado o Instituto Católico de Ciências e Letras, que tinha por finalidade, segundo o próprio Becker, “imprimir uma orientação segura ao movimento intelectual da nossa terra, baseado em princípios indestrutíveis e doutrinas extremes de erros"[14].

No campo da projeção política ficou conhecido o episódio da oferta feita a Becker para candidatar-se como senador pela oposição gaúcha nas eleições de maio de 1924. Na carta pública em que agradeceu pela lembrança justificou que nas circunstâncias então vigentes não podia aceitar o convite, mas em nenhum momento afirmou que essa impossibilidade derivava de uma questão de princípio[15]; pouco tempo depois advertiu o clero para não imiscuir-se em política, não aceitando candidaturas nem cargos[16]. Mas a prova de que não via nenhuma incompatibilidade fundamental entre a militância religiosa e a militância política veio três anos depois, quando destacou um de seus colaboradores mais próximos, o cônego Nicolau Marx, para candidatar-se a uma vaga na Assembléia dos Representantes do Rio Grande do Sul pelo partido governista.

Dentro desse contexto, um dos mais importantes movimentos desencadeados pelo arcebispo foi a criação das Uniões de Moços Católicos (UMCs). A nível público a campanha em favor da fundação desse movimento começou no final de 1923. Na Estrela do Sul de 8 de novembro desse ano foi publicado abundante material sobre o tema. Na primeira página destacou-se um artigo sob o título "ACM = Arapuca Contra Moços", que constituiu uma investida pesada contra a Associação Cristã de Moços, dizendo que, apesar do título genérico "cristã", se tratava de um movimento protestante, cujo objetivo seria protestantizar para melhor americanizar. O texto dizia que para contrapor-se à ACM, D. João Becker teria lançado a idéia de uma UMC, que funcionaria como "antídoto eficaz contra a negregada associação norte-americana", "um polvo ianque metodista-batista-adventista-biblista etc.". O jornal ainda destacou que já se conseguira lançar a primeira notícia sobre esse novo movimento na imprensa mundana, na edição de 14 de outubro do Correio do Povo. Em 28 de janeiro de 1924 fundou-se, oficialmente, a primeira UMC de Porto Alegre, cujo organizador e presidente provisório foi o comendador Plácido de Castro. O discurso oficial foi do político oposicionista Plínio Casado. A diretoria regular a partir dessa data passou a ter o arcebispo como presidente-honorário e Adroaldo Mesquita da Costa, advogado e fervoroso militante leigo do catolicismo, como presidente efetivo[17]. Em outubro de 1924 foram aprovados pelo arcebispo os estatutos da UMC[18] e fundou-se o primeiro grupo do interior do Estado, em Cachoeira do Sul[19]. Até 1928 a imprensa se referiu a UMCs também nos municípios de Alegrete, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Cruz Alta, Garibaldi, Montenegro, Novo Hamburgo, Santa Cruz, Santa Maria, São Leopoldo, Taquara e Taquari. A imprensa mundana passou a publicar freqüentes notícias sobre o movimento, e a partir de 1927 a Estrela do Sul manteve uma seção permanente intitulada "Pelas Uniões de Moços Católicos".

O movimento das UMCs fora fundado em 1915 em Minas Gerais pelo Dr. Orsini de Castro, com o objetivo de "educar o moço para perfeito cidadão e destemido católico". Durante oito anos o movimento tivera uma existência mais ou menos obscura, mas a partir de 1922 começou a expandir-se, com a fundação de Uniões em São Paulo e depois no Maranhão. Após uma visita a Minas Gerais, D. João Becker voltou entusiasmado com o que viu e começou a tomar medidas para sua implantação também no Rio Grande do Sul[20]. Em 1925 já havia 60 Uniões em todo o Brasil, distribuídas em 10 Estados[21]. Cada União era autônoma, mas todas obedeciam aos mesmos princípios de funcionamento. Para as Uniões de uma mesma diocese constituía-se um Conselho Regional e a nível estadual havia um Conselho Estadual. Em 15 de junho de 1927 Becker designou o padre Leopoldo Neis como assistente eclesiástico para o Conselho Regional em formação[22], cujos membros foram nomeados pouco depois, por sugestão de Neis, sendo eles: Manoel da Silva Meira (presidente), João Cavalheiro do Amaral (secretário) e Timóteo A. Cidade (tesoureiro)[23]. Quando o padre Neis deixou o cargo em meados de 1928, foi nomeado para substituí-lo o padre José Barea, outro clérigo com funções muito próximas ao arcebispo[24]. Em janeiro de 1928 fora nomeado o Conselho Estadual, constituído por Carlos Bento (presidente), Álvaro Cruz (secretário) e Frederico Kessler (tesoureiro)[25], sendo o padre Antônio Reis indicado assistente eclesiástico[26]. Becker em pessoa deu posse a esse Conselho, em 27 de janeiro de 1928[27]. No decorrer do tempo foram atraídas personalidades de peso para a nova agremiação. Numa "Festa do Papai", no Teatro São Pedro, foi registrada a presença dos generais Cypriano da Costa Ferreira e Oscar de Noronha, além do Dr. Heitor Annes Dias, de Antônio Chaves de Barcellos e de Mansueto Bernardi[28]. A UMC do bairro São Geraldo admitiu como sócios especiais os professores da Faculdade de Medicina Pereira Filho e Oscar Pereira[29]. O movimento se expandiu em Porto Alegre, fundando-se Uniões em no mínimo seis paróquias da capital. O salão da sede central, na Rua Riachuelo 1038, tinha lugar para reuniões com 600 pessoas[30].

O antiprotestantismo - de forma concreta, sobretudo a oposição ao metodismo e à Associação Cristã de Moços[31] - e o nacionalismo foram as características básicas do movimento. Durante os cinco primeiros anos esses dois aspectos constituíram uma constante nas notícias sobre as UMCs. Isso transparece tanto nas primeiras notas na Estrela do Sul de 1923, já citadas, quanto na primeira grande matéria no órgão oficial da arquidiocese, a Unitas. Em sua edição de setembro/outubro de 1924 lia-se que os principais inimigos da Igreja, no momento, seriam os "metodistas, sabatistas, americanos propagandistas, declamadores de conferências" e, por isso, "contra a invasão protestante, temos a União de Moços Católicos. Em frente aos arraiais da Associação Cristã de Moços a UMC levantou e acampou suas tropas e desfraldou a bandeira 'por Deus e pela Pátria'"[32]. E esse tom se repetiu praticamente ao infinito nos anos seguintes. Além da ACM, os colégios protestantes - mais uma vez sobretudo os metodistas - eram vistos como outro inimigo figadal da Igreja e da juventude. Esse perigo era apresentado como bem palpável no início da década de 1920, com o aparecimento de três desses colégios: o Cruzeiro do Sul, o Americano e o Porto Alegre College[33]. "Como os protestantes norte-americanos fazem propaganda de sua seita em seus colégios e por meio de seus colégios, é dever nosso chamar continuamente contra estas escolas, que são subterrâneos onde se prepara manhosamente a miragem da unidade nacional e, portanto, de sua soberania e liberdade". Infelizmente muitos pais católicos não teriam escrúpulos em mandar seus filhos a esses colégios protestantes, sem se darem conta de que incorriam em "grande culpa, que a santa Igreja castiga com a excomunhão"[34]. O Seminário, revista editada pelo seminário dos jesuítas em São Leopoldo, publicou em 1927 um artigo sobre "O perigo ianque", perguntando se ele de fato existia? A resposta foi certeira: "Por enquanto há o [perigo] da conquista religiosa, que está sendo feita pelos metodistas em todos os países da América do Sul"[35]. A Estrela do Sul de 17 de junho de 1928 lançou "um grito de angústia", pois "se não agirmos contra essa Associação [Cristã de Moços], o nosso solo será, daqui uns 20 anos, uma terra de 30 milhões de habitantes gemendo sob o peso da escravidão", "os nossos altares desaparecerão, a religião católica, herança de nossos avoengas, os crucifixos, os templos, os campanários, os conventos, os colégios já não existirão no Brasil. Em suma, os nossos pósteros serão luteranos ou metodistas". Cerca de três semanas depois, em 8 de julho de 1928, a mesma Estrela do Sul contrapôs, em destaque de primeira página, a UMC à ACM. Enquanto esta última "visa roubar a fé tradicional aos católicos brasileiros", o objetivo da primeira consistiria em "servir a Deus na nossa santa religião, praticá-la e levar os seus princípios para o seio da sociedade, aplicá-los na atividade social, sustentar com brio e denodo a sua dignidade e liberdade, defendê-la contra ataques". E duas semanas adiante, em 22 de julho de 1928, o jornal transformou o "grito de angústia" em grito de guerra da UMC contra a ACM: "Moços, às armas!". "Si vis pacem, para bellum! Sejamos quais Tertulianos, defendendo-nos de todos os ataques dos nossos adversários, que querem minar os fundamentos da Igreja".

Apesar de os ataques se centrarem basicamente no metodismo e em suas instituições, este não foi o único alvo da UMC. A Estrela do Sul de 18 de março de 1928 noticiou que houve uma reunião extraordinária do Conselho Regional da UMC para deliberar sobre "uma campanha enérgica contra a seita adventista, cujos emissários realizaram um congresso com pregações de propaganda na paróquia da Glória". E em 23 de setembro do mesmo ano o jornal noticiou que, no bairro Navegantes, batistas costumavam, nos domingos de manhã, levar para as ruas uma banda de música, e depois que se juntou um grupo de curiosos a música pára e começam as pregações, prática contra a qual conviria a UMC investir.

O nacionalismo foi uma constante, tanto no discurso quanto na prática cotidiana da UMC. As posições nacionalistas que parte significativa dos membros da Igreja Católica assumiu durante a Primeira Guerra não desapareceram nos anos seguintes. Folheando-se uma revista destinada à juventude como o foi O Echo, editado pelo Colégio Anchieta, encontram-se referências constantes ao nacionalismo nos anos anteriores ao surgimento da UMC. No número de maio de 1920 foi publicado um artigo sob o título "O verdadeiro nacionalismo" e seu autor, sob o pseudônimo Deldor, perguntou: "Onde está o patriota que não vê com indignação - e com os punhos cerrados - como tantas companhias estrangeiras camuflam rios de dinheiro brasileiro para Londres, Paris, Nova York, Lisboa e outras cidades que não são nossas? (...). Urge reagir"[36]. No número de junho apareceu um artigo a favor da Ação Social Nacionalista, liderada, no Rio de Janeiro, por Epitácio Pessoa, Afonso Celso e pelo cardeal Arcoverde[37]. Em agosto, setembro e outubro do mesmo ano foram publicados artigos, respectivamente, sobre "O progresso do nacionalismo", "Nacioanlismo e ensino livre" e "Postulados do 'nacionalismo católico'"[38]. Em setembro de 1922 noticiou-se o lançamento, em Porto Alegre, da revista O nacionalista, órgão oficial da Liga Riograndense Nacionalista, liderada por Carlos Mena Barreto e por Bruno Marsiaj[39]. O nacionalismo, portanto, não foi inventado pela UMC, mas ela se transformou num dos seus principais mentores e portadores.

Nacionalismo e patriotismo foram temas destacados desde as primeiras publicações sobre a UMC. Na Estrela do Sul de 10 de fevereiro de 1924 apelou-se ao "dever patriótico" dos jovens em ingressar na UMC, que foi considerada um "fascismo sagrado"[40]. O mesmo fervor militante apareceu no primeiro texto mais denso sobre o assunto na Unitas, onde se dizia que a organização "tem caráter militante, daí sua organização de guerra! Destina-se ao Brasil inteiro, sem bairrismo de Estados. Daí sua hierarquia, respeitando-se as liberdades necessárias a cada Estado". Esse fervor patriótico estava também claramente expresso no hino da UMC[41]:

Somos de Cristo                                            Também da Pátria                             Avante! Avante!

Bravos cruzados                                            Somos guerreiros                                           De glória em glória,

E, denodados,                                                E, sobranceiros,                                             Louvor, vitórias

Sempre havemos de lutar      Fá-la-emos progredir             Nós havemos de alcançar.

Somos a coorte,                                             É nossa mente                                                           E Deus na altura

Valente e forte,                                              Vê-la crescente,                                             Nos dê bravura,

Que a própria morte                          Quer no presente,                                          Calma, segura,

Não nos há de intimidar        Quer no porvir.                                              Para lutar.

Esse fervor traduziu-se na atividade cotidiana das UMCs através do festejo das grandes datas nacionais com, no mínimo, a mesma ênfase com se festejavam os feriados religiosos. O 21 de abril de 1928 foi comemorado com a apresentação do filme "Dêem asas ao Brasil"[42]. Todas as UMCs de Porto Alegre participaram de intensa programação alusiva ao 7 de setembro do mesmo ano. No bairro Glória, Riograndino da Costa e Silva proferiu palestra sobre "Deus e Pátria", na qual lamentou a frieza do povo frente às grandes datas nacionais[43]. Além de convocar os jovens a "alistar-se" na UMC[44], faziam-se campanhas contra a insubmissão frente aos deveres para com o Exército[45] e assinavam-se convênios com Tiros de Guerra para a realização de instrução militar em suas sedes[46]. As notícias em torno desses eventos e dessas campanhas na imprensa laica de Porto Alegre classificavam a UMC como uma "associação cívico-religiosa"[47]. Como cívico-religiosa também se pode classificar a proposta de lutar pelo aumento do número de ruas com nomes de padres em Porto Alegre[48] e a abertura de "cursos populares", que, além de física, química, ministravam instrução religiosa e moral e cívica[49].

Só uma UMC de Porto Alegre parece ter destoado do padrão geral. A Unitas de abril/maio de 1926 informou que D. João Becker aprovara, em 15 de março, os estatutos da UMC - também chamada de Jugendverein - da capela São José, que na linguagem popular era cognominada "dos alemães"[50]. Uma consulta à imprensa de língua alemã, em especial a católica, fornece uma série de informações interessantes sobre as atividades dessa UMC. Assim, em julho de 1927 o Jugendverein promoveu uma festa de família, que constou da abertura por uma banda de música, seguindo-se canto do coral da juventude, que apresentou músicas folclóricas, encerrando com uma comédia, Die Welt geht unter (O mundo vai acabar). Segundo o jornal, foi uma festa de muito riso e diversão[51]. Em abril de 1928 foi noticiada outra festa, que constou de missa às 10 horas da manhã, na qual o coral da juventude cantou algumas peças clássicas. A parte mundana ficou um pouco prejudicada pelo mau tempo, já que se realizou na chácara de Hugo Metzler, no bairro Partenon, mas, mesmo assim, houve dança e diversão até a noite[52]. Uma festa especial parece ter ocorrido em 5 de agosto de 1928. Ela constou da apresentação de um conjunto musical no início, seguido de uma série de pequenos esquetes humorísticos. Depois foi apresentada a comédia Wer zuletzt lacht (Quem ri por último), cujo efeito foram riso e gargalhadas sem parar. Terminada a peça, iniciou o baile, que foi até a madrugada. A festa entusiasmou até um repórter do jornal laico Neue Deutsche Zeitung, cujos donos e redatores eram luteranos[53].

Mas voltemos a D. João Becker e seu movimento unionista, para localizarmos nesse contexto três acontecimentos que se desenrolaram entre setembro de 1925 e setembro de 1928. Em 1925 entrou em discussão no Congresso Nacional uma proposta de reforma da Constituição de 1891. Entre as emendas apresentadas na oportunidade, constavam duas do deputado paranaense Plínio Marques, que ficaram conhecidas como "emendas católicas". Uma visava implantar o ensino religioso facultativo nas escolas públicas e a outra pretendia incluir no texto constitucional uma declaração de que o catolicismo era a religião da maioria do povo brasileiro. Essas emendas desencadearam a fundação de Comitês Pró-Liberdade de Consciência "em todo o território nacional" com a "finalidade suprema e única [de] propugnar pela plena liberdade de consciência, defendendo a integral separação entre qualquer culto ou credo religioso e o Estado, de acordo com os princípios republicanos consignados no Art. 72 da Constituição de 24 de fevereiro de 1891"[54]. As emendas seriam votadas em fins de setembro de 1925, e nas semanas precedentes também no Rio Grande do Sul organizaram-se Comitês Pró-Liberdade do Consciência. No interior do Estado, o de Pelotas foi provavelmente o mais ativo e de maior abrangência em termos dos grupos participantes. O manifesto do comitê de Pelotas foi assinado por representantes da loja maçônica Fraternidade, do Centro Theosóphico Blavatzky, da Igreja Episcopal do Redentor, da Milícia Cristã, da Ordem Auxiliadora de Senhoras da comunidade luterana do Sínodo Riograndense, do Centro Espírita Jesus, da Liga Operária, da Sociedade Auxílio Fraternal das Senhoras Espíritas, da Federação Acadêmica, do Grêmio de Agronomia e Veterinária, do Grupo Espírita Francisco de Jesus Vernetti, do Centro Espírita Humildes Filhas de Jesus, da Sociedade União Espírita, do jornal O Pharol, do Colégio Espírita Jeremias Fróes, do Grupo Espírita São Bartolomeu, da Sociedade União e Instrução Espírita, da Escola Prática de Comércio, do jornal O Templário e da União Republicana[55].

Mobilização semelhante à de Pelotas também aconteceu em Porto Alegre e o mês de setembro se transformou num momento de grandes debates entre concepções de mundo divergentes. Em 6 de setembro Egydio Hervé, um dos principais líderes espíritas da época, publicou na seção livre do Correio do Povo extensa carta-aberta acusando o cônego Nicolau Marx de ser o autor de panfletos anônimos contra o Espiritismo recentemente distribuídos. No dia 9 o mesmo jornal noticiou a realização de uma reunião na Associação Cristã de Moços, à qual compareceram representantes maçons, protestantes e espíritas e onde foi decidida a realização de um congresso, no final do mês, para uma discussão das "emendas católicas". Foi constituída uma comissão organizadora do congresso, composta pelo marechal Carlos Frederico de Mesquita (presidente), Frank Long (vice), Ataliba Salvaterra (orador) e Eduardo Pacheco de Andrade (secretário). Foi marcada a data de 28 de setembro para a realização do evento e enviada correspondência a entidades da capital e do interior, solicitando que nomeassem delegados. A Getúlio Vargas e ao presidente do Senado foram enviados telegramas comunicando o fato. Em 13 de setembro o renomado padre Werner von und zur Mühlen rebateu enfaticamente na seção livre do Correio do Povo a carta de Hervé, afirmando que todas as suas assertivas eram pueris. No dia 18, o Correio do Povo noticiou que o Congresso Pró-Manutenção dos Princípios Liberais da Constituição da República estava a pleno vapor, que um convite formulado a Flores da Cunha para participar fora aceito e que já havia grande número de teses inscritas, como "Livre exercício de cultos" de Egydio Hervé, "Ensino leigo, ensino moral" de Alberto de Brito, "Separação da Igreja e do Estado" de Paulo Hecker, "Livre manifestação do pensamento" de Clotário Soares Pinto, "Livre exercício de profissões" de Alcides Maia[56]. No dia 20, Hervé respondeu ao padre Werner no mesmo jornal e Átila Salvaterra, uma importante liderança maçônica, lembrou ao clero que quando este atribuiu a oposição às "emendas católicas" aos maçons, espíritas e protestantes, estava esquecendo um outro grupo muito importante, os republicanos do PRR. Lembrou que se pronunciaram contra as emendas Getúlio Vargas, Flores da Cunha, Lindolfo Collor e, a nível local, Sinval Saldanha, presidente do diretório porto-alegrense do partido. A comissão organizadora do congresso levou sua campanha às ruas, realizando em 21 de setembro um comício na Praça da Alfândega, destinado especialmente aos operários[57]. A partir de 22 de setembro foram publicadas, tanto pelo Correio do Povo quanto pelo Diário de Notícias, convocações formais para o congresso, assinadas por 25 personalidades. O Concílio Anual das Igrejas Metodistas do Estado, reunido em 17 de setembro em Santa Maria, decidiu pela adesão ao congresso[58]. Henrique Estácio Fischer, presidente da Ação Católica local, publicou em 24 de setembro no mesmo jornal um "Repto" a Hervé, afirmando uma "primeira vitória" sobre ele, quando no folheto "Bíblia e reencarnação" teria ficado provado "pelas Escrituras" que "o homem vive uma vez só". Simultaneamente foram anunciadas as adesões de José Montaury e do deputado Victor Russomano ao congresso anti-emendas. Políticos do interior aderiam a uma ou outra das facções. Celeste Gobatto, intendente católico de Caxias do Sul, manifestou sua solidariedade para com a causa católica, Carlos Fett Filho, intendente luterano de Lajeado, dava seu enfático apoio ao congresso[59]. Apesar de o Sínodo Riograndense não ter-se envolvido de forma direta, fazendo-se apenas representar pelo metodista Frank Long[60], o noticiário da imprensa deu destaque ao telegrama enviado pelo seu presidente, pastor Theophil Dietschi, ao presidente da Câmara dos Deputados, onde, em nome de 300 comunidades, com 130.000 "almas", protestou contra "modificação constituição federal possa resultar posição favorecida igreja católica romana, prejuízo liberdade cultos, pensamento, conquista profundamente arraigada consciência nacional"[61].

O "congresso maçônico-protestante-espírita" - como o chamava a imprensa católica[62] - acabou alcançando um sucesso aparentemente maior do que esperavam seus organizadores, pois, em vez de um dia só, estendeu-se por três noites (28, 29 e 30 de setembro), lotando o Teatro São Pedro. Além dos delegados e do público da capital, contou com a presença de 47 delegados do interior do estado, representando 75 associações, com mais de 200.000 membros[63]. Entre as diversas resoluções e manifestações da última noite, uma, apresentada por Egydio Hervé, propôs o envio de um telegrama de congratulações a Lindolfo Collor, "jovem ainda, mas que, nesta santa cruzada, se tem mostrado forte, pioneiro, escrevendo pela imprensa e angariando assinaturas pela não passagem das emendas"[64].

Os anais da história brasileira registram que a emenda do ensino religioso facultativo foi rejeitada e a da declaração do catolicismo como religião da maioria do povo brasileiro foi retirada por seu autor. Com isso o tema perdeu espaço no noticiário da grande imprensa de língua portuguesa, mas continuou, por algum tempo, na imprensa de língua alemã. O católico Deutsches Volksblatt somente no dia 28 de setembro trouxe uma matéria sob o título "O congresso de protesto das filiais de seitas norte-americanas, maçons, espíritas e teósofos", destacando que no dia 26 o órgão oficial do partido do governo, A Federação, trouxera uma matéria editorial sobre o assunto, na qual transpareceria simpatia para com o congresso anti-emendas previsto para Porto Alegre. Resumiu a essência do texto do jornal governista e encerrou com a observação irônica, em português, "Está regulando!". O Volksblatt só depois do episódio começou a tecer comentários a respeito do assunto. Assim, no dia 1° de outubro anunciou quem foram os principais opositores às emendas, destacando Collor, da situação, e Wenceslau Escobar, da oposição. Teceu também comentários sobre a decantada condição de país católico por parte do Brasil, considerando que isso era mais teoria do que prática e lembrou que a nível popular estava fazendo grande estardalhaço, neste momento, em Porto Alegre, o "professor milagreiro" Mozart Teixeira, espírita; a nível das elites, incluindo o aparelho de Estado, lembrou que no recente congresso o procurador do Estado Alberto de Britto investiu pesado contra a Igreja.

No dia 2 de outubro Volksblatt publicou uma matéria que desencadeou uma polêmica com os principais jornais em língua alemã, em especial com a Deutsche Post, de São Leopoldo. Nessa matéria foi comentada a emenda nº 10, que, segundo o jornal, visava unicamente "o reconhecimento platônico de que a religião católica é a religião da maioria do povo brasileiro". No dia seguinte, a Deutsche Post publicou um editorial de duas páginas inteiras sobre o tema, assinado por seu editor, Martin Fischer. Esse editorial abordou um grande número de aspectos da questão, mas a essência estava nas considerações sobre os efeitos de uma eventual aprovação das emendas. Em relação à primeira, a do ensino religioso facultativo, destacou que as igrejas protestantes não possuíam pastores e professores suficientes para ministrar as aulas nos colégios públicos e isso poderia ter sérias conseqüências pedagógicas para essas crianças, que se sentiriam abandonadas no momento em que as crianças católicas entrassem para suas aulas de religião. Participar das aulas dos católicos representaria, por sua vez, um risco à sua fé protestante. A discriminação já existiria, sem ensino religioso - citou um exemplo recente em que um padre promoveu uma procissão de Corpus Christi com alunos de uma escola pública; quando a procissão terminou, o padre teria distribuído balas às crianças que haviam participado, mas as crianças protestantes, que também estavam presentes, não teriam recebido balas. Fischer insistiu em que a Igreja Católica não se contentaria com o ensino religioso, e citou o próprio Volksblatt, que teria comentado que o ensino religioso sozinho não bastava quando o professor das demais disciplinas era ateu. Isso mostraria muito claramente que a aprovação da emenda seria apenas o primeiro passo na tentativa de implantação da escola pública confessional. Além disso, Fischer lembrou que o ensino religioso nas escolas públicas certamente seria em português e isso contrariaria um princípio básico do Sínodo Riograndense, que considerava fundamental que o Evangelho fosse pregado aos fiéis na sua língua-mãe.

Mas Fischer insistiu em que, ao contrário do que se viu na maioria das manifestações contra e a favor, a segunda emenda era muito mais perigosa do que a primeira. E retomou a manifestação do Volksblatt de que não se tratava de nada mais do que de uma "declaração platônica". Sendo apenas platônica, não haveria razão para colocá-la na constituição, um documento importante demais para se colocar nele algo sem sentido prático. Fischer considerou que havia um movimento comandado a partir de Roma, iniciado num grande acordo por ocasião da eleição de Arthur Bernardes contra o maçom Nilo Peçanha e que faria parte de uma estratégia geral, que a nível europeu consistiria na celebração de concordatas com diversos Estados. A "declaração platônica", uma vez incluída no texto constitucional, abriria as portas para a investida do catolicismo para conquistar espaço cada vez maior, até chegar ao objetivo última, a reimplantação do catolicismo como religião oficial do Brasil. A Neue Deutsche Zeitung defendeu posição muito semelhante, destacando que a emenda nº 10 era muito pior do que a nº 9, porque a "declaração platônica", com certeza, uma vez aprovada e incluída na constituição, seria preenchida, de forma arbitrária, de conteúdo[65].

Volksblatt revidou, dizendo que a Deutsche Post estava mancomunada com "comunistas e filiais de seitas norte-americanas". Numa argumentação silogística, apresentou o Sínodo Riograndense como responsável último pelo congresso anti-emendas realizado em Porto Alegre. Segundo informações prestadas pelos organizadores do evento, teriam estado ali representadas associações que somavam cerca de 200.000 membros de todo o Rio Grande do Sul; como o telegrama do pastor Dietschi ao presidente da Câmara dos Deputados afirmou que o Sínodo possuía 130.000 fiéis, a conclusão lógica era que a absoluta maioria daqueles que haviam sustentado o congresso eram membros do Sínodo[66]. A Deutsche Post voltou a atacar, quando a imprensa nacional começou a noticiar que, após a derrota das emendas, importantes círculos católicos estariam articulando a criação de um partido católico. Isso demonstraria que o catolicismo estava firmemente empenhado em implantar uma política católica no Brasil, coisa que para o luteranismo era absolutamente inconcebível[67]. Essas alfinetadas recíprocas perduraram por algumas semanas.

O episódio das "emendas católicas" repercutiu quase um ano e meio depois, nas eleições legislativas federais de fevereiro de 1927, envolvendo Lindolfo Collor. Os pais desse político teriam sido luteranos, mas ele estudou num colégio episcopal, e até os 19 anos teria sido militante dessa confissão religiosa[68]. Mais tarde teria abandonado sua militância protestante e também esquecido sua ascendência germânica. Vianna Moog relata que era considerado pouco alemão por aqueles que se consideravam alemães e que, apesar de os católicos o considerarem protestante, tinha hábitos católicos[69]. De fato, ele representava uma trava no olho da Igreja Católica. Só num momento esta pôde festejar uma vitória. Foi no início de 1928, quando ele se candidatou a uma vaga na Academia Brasileira de Letras e foi derrotado pelo bispo e ex-presidente de Mato Grosso, D. Francisco de Aquino Correa. A Estrela do Sul[70] exultou nessa oportunidade. A alegria do jornal da arquidiocese de Porto Alegre tinha sua razão de ser, pois entrementes havia acontecido sua candidatura e eleição para um segundo mandato de deputado federal.

Estava em andamento a campanha para as eleições legislativas federais de 24 de fevereiro de 1927, em que Collor foi novamente candidato. A 3 de fevereiro, o vigário de São Leopoldo, padre jesuíta Carlos Doppler, resolveu fundar uma UMC, e a primeira resolução da nova entidade foi desencadear uma campanha pelo boicote eleitoral a Collor. No dia 9 de fevereiro Deutsches Volksblatt publicou uma proclamação, assinada pela UMC de São Leopoldo, em que foi lembrada a pastoral coletiva dos bispos do Brasil meridional de 1915, que determinava que nenhum católico poderia votar num inimigo declarado da Igreja. E Collor era inimigo declarado da Igreja. A reação não se fez esperar. Em 16 de fevereiro A Federação, órgão oficial do Partido Republicano Riograndense, publicou uma série de declarações formais de membros do partido em São Leopoldo informando que não tinham participado da fundação da UMC, não tinham concordado em aceitar cargos na entidade, como havia sido publicado no Diário de Notícias do dia 5 de fevereiro, e muito menos endossavam a campanha contra Collor. A Federação publicou ainda um manifesto de "católicos de São Leopoldo" contra a UMC local e a favor de Collor, dizendo que "só a perversidade e o odiento espírito de revolta que dominam o assisismo[71] é que poderiam lembrar-se, nesta hora, em plena paz e sob a completa soberania da lei, de lançar mão de mais esse triste pretexto para continuar a cizânia na família riograndense".

Alguns dias depois a Deutsche Post esclareceu os acontecimentos[72]. O padre Doppler teria pretensões políticas e estaria apostando na oposição. Daí a campanha contra Collor. A inesperada reação de parte dos republicanos católicos de São Leopoldo o teria levado a uma tentativa de consertar o estrago. Assim, a partir de 17 de fevereiro o Deutsches Volksblatt publicou novo manifesto, nos mesmos termos do anterior, mas nessa versão conclamando ao boicote não só contra Collor, mas também contra Wenceslau Escobar, da oposição[73]. Entrementes o padre teria entrado em férias[74]; no final do ano deixou São Leopoldo, transferido para o norte do Brasil[75]. A situação criada pelo padre foi incômoda para muitos católicos, obrigando-o a justificar-se no domingo, do púlpito, afirmando que defendia princípios, e que princípios que não geram conseqüências práticas não seriam princípios. O jornal católico Der Wegweiser rebateu, dizendo que associações ligadas à Igreja deveriam ter o máximo de cuidado quando emitem posicionamentos políticos, e sempre que tratassem delas deveriam falar somente depois de uma consulta a assembléias com representação da comunidade. O Volksblatt, ligado aos próprios jesuítas, teria defendido a necessidade do aval das autoridades eclesiásticas em situações semelhantes[76].

Durante a campanha, os republicanos saíram em defesa de Collor. O deputado Ariosto Pinto, em passagem por São Leopoldo, no dia 18 de fevereiro, procurou mostrar que Collor não era inimigo da Igreja, que alguns anos antes, quando José Guilherme de Morais deixou um significativo legado para a construção da catedral, deu - então na condição de deputado estadual - um parecer favorável para que esse legado ficasse livre dos impostos legais. O subintendente do município, Frederico Wolfenbüttel, destacou que Collor era um membro fiel do PRR e que este nunca foi contra a Igreja, opondo-se, por exemplo, no início da República, à proposta de expulsão dos jesuítas[77]. Nas eleições, o veredicto do eleitorado foi muito favorável a Collor. Obteve no primeiro distrito eleitoral 48.893 votos, enquanto o segundo colocado alcançou 40.044[78]. A Federação festejou: "Os opositores à candidatura de Lindolfo Collor, derrotados no seu próprio reduto pelas arregimentadas e disciplinadas forças republicanas, devem a esta hora amargar ao peso da mais vergonhosa decepção... Exultemos, mais uma vez, com o triunfo obtido por Collor!"[79]. A vitória, no entanto, se mostraria ainda mais extraordinária, quando as notícias dos outros Estados deram conta de que ele fora o segundo deputado mais votado de todo o Brasil. E a vitória se tornou apoteótica, quando, algum tempo depois, a comissão de verificação de poderes anulou um certo número de votos do primeiro colocado, Júlio Prestes, de São Paulo, e Collor acabou sendo o deputado mais votado em todo o país nas referidas eleições[80].

Esse revés, no entanto, parece não ter afetado a UMC de São Leopoldo. A diretoria provisória escolhida em 3 de fevereiro de 1927 dirigiu a entidade até 7 de novembro daquele ano, quando foi eleita uma diretoria efetiva. Iniciando com 47 sócios, chegara a 187 no final do ano e durante 1928 chegou aos 301[81]. Na imprensa de Porto Alegre, eclesiástica e profana, encontram-se notícias freqüentes sobre atividades da UMC de São Leopoldo. Para o período de 8 a 14 de janeiro de 1928 foi programada uma semana de retiros espirituais no seminário dos jesuítas, cuja freqüência teria sido de 88 pessoas por noite, em média[82]. Em fevereiro foi inaugurada a primeira aula noturna com 50 alunos[83]. O Primeiro de Maio foi comemorado com uma palestra de Adroaldo Mesquita da Costa[84]. Na procissão de Corpus Christi, em junho, os unionistas compareceram em número de 200[85]. No 7 de Setembro realizou-se mais uma vez uma palestra de Adroaldo Mesquita da Costa[86] e a partir dali se realizariam palestras semanais. No mesmo mês de setembro foi criado um Departamento de Caridade, noticiado pelo Correio do Povo no dia 25. As atividades da associação eram consideradas tão dignas de publicidade que em 19 de setembro o mesmo jornal noticiou a inauguração de uma nova loja de Ernesto S. Bohrer, membro da diretoria da UMC, e o comparecimento maciço dos demais membros.

Passado o episódio Collor com a UMC de São Leopoldo, a UMC de Porto Alegre estaria presente num outro episódio importante, em setembro de 1928. Veio nesse ano a Porto Alegre uma companhia de teatro alemã, que se apresentava no Teatro São Pedro ao público de fala alemã da capital. Seu diretor era Roman Riesch. Nesse ano a companhia tinha no seu programa, que iniciou em 1º de setembro algumas peças de Ludwig Anzengruber e de outros autores, cujo conteúdo era crítico em relação a alguns aspectos do catolicismo. A Neue Deutsche Zeitung, no seu primeiro comentário mais substancial sobre o programa, não mediu palavras: “Baba-se” ao ver o programa, “só bombons! Quem não sair correndo direto ao São Pedro [para comprar entradas] que vá ao deserto para divertir-se com chacais e com pulgas!”[87]. O Deutsches Volksblatt não fez comentários tão efusivos, apesar de ter acompanhado com interesse a presença da companhia alemã[88]. Iniciada a temporada de apresentações, a Neue Deutsche Zeitung continuou com seu entusiasmo, destacando, por exemplo, que durante a apresentação da opereta camponesa A noite de núpcias “a casa ficou extasiada”[89]. Já o Volksblatt tinha algumas restrições; admitia que a peça apresentava um “humor natural” e que o desempenho dos atores fora bom, mas anotou que o texto apresentava algumas ambivalências[90]. As divergências na avaliação do programa da companhia alemã, no entanto, ficaram patentes nos comentários sobre a peça Die Kreuzelschreiber[91], uma comédia camponesa, de Anzengruber. A Neue Deutsche Zeitung comparou o ímpeto do autor a Shakespeare; admitiu que o texto era um pouco “seco”, por não ser sentimental e por isso teria sido acusado, falsamente, de ser contra pastores e burocratas, mas ele só apresentaria a realidade tal qual ela é. Assim, estaria em perfeita sintonia com o Nazareno[92]. Já o Volksblatt, nesse mesmo dia, afirmou que o autor seria livre-pensador, sem ser anticlerical, mas se valeria do ridículo para obter efeitos teatrais e com isso distorceria a verdade. As posições dos dois jornais, porém, se tornaram definitivamente antagônicas na avaliação da peça Die Wallfahrt (A peregrinação), de R. Manz, antagonismo que certamente foi aguçado pelo fato de que esta peça teve o maior público. Enquanto a Neue Deutsche Zeitung afirmou, jocosamente, que não era peça para jovens moças e que, portanto, não deveria ser freqüentada por quem não a suportasse, o Volksblatt rebateu dizendo que uma peça que esteve proibida na Alemanha não deveria ter sido trazida para Porto Alegre, e que não se tratava de gostar ou não gostar, pois a peça seria injuriosa ao catolicismo, e injúria contra a religião de quem quer que seja não seria uma simples questão de gosto[93].

O auge da contenda, no entanto, seria atingido na avaliação da peça Aus der Art geschlagen (O degenerado), de Anzengruber. Nessa peça o personagem central é o capelão Ruesch, um padre brilhante e bom. Acontece que o título da peça o classificou como “fora do padrão”, como exceção. A apresentação dessa peça estava prevista para o dia 16 de setembro, mas no dia 14 apareceu na seção livre do Diário de Notícias uma matéria intitulada “Aos católicos de Porto Alegre”, assinada “por um grupo de católicos”. A matéria começou lembrando as recentes homenagens prestadas ao papa, razão pela qual não seria possível aceitar o ocorrido no dia 11, no Teatro São Pedro, quando uma “companhia estrangeira” o teria ridicularizado[94]. O Brasil seria um país que sempre se teria mostrado aberto aos estrangeiros, mas não se poderia permitir que viessem para cá ofender a “religião tradicional dos brasileiros”. O país manteria relações diplomáticas com a Santa Sé, e por isso teria o dever de impedir que seu soberano fosse ofendido. Daí a veemente conclamação para impedir a injúria, - maior que as anteriores - prevista para o dia 16.

Riesch respondeu “aos católicos de Porto Alegre”, na mesma seção do Diário de Notícias, no dia 15 de setembro, apontando para a hipocrisia de certos católicos e de outros que “desnaturam a verdade, adulteram os fatos positivos e, esgazeando os olhos, penetram no terreno da instigação”. Lembrou que as peças de Anzengruber vinham sendo apresentadas há cerca de meio século pelo mundo afora, sem que tivessem sido contestadas, como o foram em Porto Alegre. Não haveria registro de que o papa se tivesse manifestado contra elas. A companhia já teria estado em várias cidades brasileiras e em nenhuma delas teria havido qualquer oposição, - pelo contrário, o sucesso teria sido muito grande. No entanto, como saberia que católicos de Porto Alegre estariam planejando um escândalo, comunicou que resolvera retirar a peça contestada do programa. A nota terminava lamentando a falta de coragem dos autores em assinar seu texto. A réplica do “grupo de católicos” foi publicada no dia 16, no mesmo jornal e na mesma seção, e dizia que, como Riesch anunciara a retirada da peça atentatória ao sacerdócio do programa, o incidente estaria encerrado, ainda mais que alguém que injuriou a dignidade dos católicos não estaria qualificado para um debate maior.

O assunto deixou as páginas da imprensa de língua portuguesa, mas reverberou forte na imprensa de língua alemã. A Neue Deutsche Zeitung de 14 de setembro se insurgiu em termos duros contra a invocação de sentimentos nacionais numa disputa em torno de uma divergência de caráter religioso. O jornal afirmou que suspeitava que entre os signatários não assumidos do documento dos “católicos” houvesse gente cujos avós ou pais também eram “adventícios”, como aqueles contra os quais se investira no documento. Se fosse assim, só haveria uma palavra para eles: “Pfui!”[95]. O jornal historiou os fatos: a coisa teria começado com a peça Die Wallfahrt, uma sátira de Manz, contra a qual se teria tentado obter uma proibição por parte da censura. Como essa estratégia teria falhado, se teria tentado desencadear, através da matéria no Diário de Notícias, um pequeno Kulturkampf em relação à peça Aus der Art geschlagen. Como não havia nada de objetivo contra a peça, se teria apelado para slogans. Nada na peça se voltaria contra o papa ou contra princípios da Igreja Católica. Na verdade tratar-se-ia de uma brutal agressão contra a liberdade de expressão no Brasil.

No dia seguinte,15 de setembro, o Volksblatt rebateu as críticas da Neue Deutsche Zeitung, dizendo que não haveria necessidade de elementos objetivos de injúria numa peça, pois só o próprio católico decidiria se seus sentimentos foram atingidos. O jornal deu sua versão dos antecedentes: tudo teria sido feito no âmbito da própria comunidade alemã de Porto Alegre para obter a suspensão da peça; mas como esses esforços teriam sido em vão, “círculos católicos externos” teriam sido envolvidos, o que teria sido muito lamentável, mas a culpa teria sido daqueles que não se dispuseram a fazer concessões.

Nesse ponto, a polêmica começou a extrapolar o âmbito da imprensa de Porto Alegre. Em 15 de setembro a Deutsche Post, de São Leopoldo, tomou posição num longo texto sob o título “O clamor pela fogueira”. O jornal começou chamando os católicos que assinaram a manifestação do Diário de Notícias de “anões ridículos” que não tiveram coragem de fornecer seus nomes. O incidente foi considerado muito sério, pois aqui se teria instrumentalizado a religião com objetivos políticos. A Riesch-Bühne seria constituída de católicos e a peça não teria sido considerada ofensiva pela Igreja, pois o autor não seria nenhum desconhecido e, mesmo assim, sua peça não estaria no Index. O ridículo estaria no fato de que um grupo de católicos de Porto Alegre resolveu dar um puxão de orelha no papa por sua clamorosa falha em não proibir a peça. A Deutsche Post considerou que a Neue Deutsche Zeitung estava correta quando destacou que, além de uma disputa interconfessional, se tratava muito mais de uma “instigação nativista”. Uma exegese da linguagem mostraria isso: “tradicional religião dos brasileiros”, “adventícios”; um telegrama da União de Moços Católicos de São Leopoldo falaria de uma “insolente companhia estrangeira” e de “ideais religiosos brasileiros”. "Serão os ideais católicos dos alemães diferentes dos de brasileiros?", indagou o jornal. A matéria terminava perguntando de onde setores da população não teuta sabiam da peça e de seu conteúdo? Seria evidente que alguém os informara a respeito. A Deutsche Post endossou, por tudo isso, o comentário da Neue Deutsche Zeitung e também aplicou um “Pfui!”.

Mas a Deutsche Post não se contentou com esse artigo, e no dia 17 voltou, sob o mesmo título, ao assunto. Admitiu como válido, em tese, o argumento de que os sentimentos religiosos de uma pessoa não podem ser ridicularizados e que nesse caso não valeria o princípio de quem não gosta não vá. Mas o jornal argumentou que, no caso em apreço, a coisa não era bem assim. Anzengruber não quer ridicularizar o catolicismo; ele se volta contra excrescências, que existem em todas as religiões, também na católica. Deutsche Post voltou a insistir que se a peça fosse injuriosa contra o catolicismo, a autoridade máxima do catolicismo, o papa, já se teria manifestado, e a peça estaria no Index. Como isso não aconteceu, tentou-se criar, de forma propositada e artificial, um problema com objetivos escusos. Por que o manifesto do “grupo de católicos” não foi publicado no Volksblatt e sim num jornal mundano de língua portuguesa? Finalizou dizendo que apoiava o Volksblatt em seu lamento pelo fato de que o assunto extrapolou a comunidade de origem alemã de Porto Alegre. Com isso, além de objetivos escusos, o incidente constituiria uma traição à etnia.

No dia 21 de setembro Deutsches Volksblatt publicou, na forma de “a pedido”, um esclarecimento que visou sobretudo rebater a acusação feita tanto pela Neue Deutsche Zeitung quanto pela Deutsche Post de que se tratava de uma “instigação nativista”. Os abaixo assinados esclareceram que a peça Die Kreuzelschreiber foi contestada porque atacava o dogma da infalibilidade, e Die Wallfahrt porque defendia uma “moral frouxa” e ridicularizava costumes católicos. A oposição mais incisiva teria visado, porém, Aus der Art geschlagen, onde um padre bom e brilhante, Ruesch, que poderia ser festejado como herói da Igreja, era apresentado como a exceção, enquanto seu contraponto, o padre Lippmann, um canalha, era apresentado como o normal, a regra. A peça teria, com isso, trazido para dentro da comunidade de origem alemã de Porto Alegre um confronto confessional. Os abaixo-assinados teriam recorrido a várias personalidades dessa comunidade para que se empenhassem junto a Riesch para que fizesse concessões. Mas a resposta de Riesch teria sido um sonoro “Não!”. Com isso teriam estado esgotados os meios de chegar até Riesch “internamente”. Teria havido um recurso às autoridades fiscalizadoras de espetáculos teatrais, e com isso a coisa teria extrapolado o grupo étnico, desencadeando-se a declaração da UMC no Diário de Notícias, que tinha como objetivo pressionar a censura, que até então se mostrara liberal em relação ao caso. O acontecido não poderia ser classificado como “instigação nativista”, porque todos os signatários do presente documento participaram de todo esse episódio. Os signatários declaravam o caso por encerrado, mas alertavam que em situação idêntica não teriam dúvida em agir da mesma forma. O documento estava assinado por várias lideranças da Comunidade São José "dos alemães".

Exatamente uma semana depois da publicação dessa declaração deu-se o empastelamento da Deutsche Post, de São Leopoldo, que pode ser considerado o ponto culminante de todo o processo de aproximação de D. João Becker com o nacionalismo brasileiro[96].



* Professor nos Departamentos de História da PUCRS e da UFRGS, Porto Alegre, Brasil.

[1] Kreutz, Lúcio. O professor paroquial: magistério e imigração alemã. Caxias do Sul/Florianópolis/Porto Alegre: UCS/UFSC/UFRGS, 1991. Rambo, Arthur Blásio. “A igreja da restauração católica no Brasil meridional“. In: Dreher, Martin N. (org.). Populações rio-grandenses e modelos de igreja. Porto Alegre/São Leopoldo: EST/Sinodal, 1998, p. 147-162.

[2] O trabalho mais completo sobre D. João Becker, com ênfase especial sobre o período pós-1930, é Isaía, Artur Cesar. Catolicismo e autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. Cf. também Rambo, Arthur Blásio. “D. João Becker, perfil de um bispo rio-grandense”. In: Dreher, op. cit., p. 226-240.

[3] O jornal católico Der Wegweiser, de Porto Alegre, ao lembrar o 56º aniversário de Becker, afirmou que ele nasceu em Harmonia, Montenegro (Der Wegweiser, 23 de fevereiro de 1927). Isaía destaca que numa biografia publicada por ocasião de sua morte, em 1946, se omitiu o local de nascimento (Isaía, op. cit., p. 54).

[4] Sobre Dohms e o Sínodo Riograndense cf. Dreher, Martin Norberto. Igreja e germanidade. São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/EST, 1984.

[5] Sobre a Liga cf. Bandecchi, Brasil. Liga Nacionalista. São Paulo: Parma, 1980. Levi-Moreira, Sílvia. “Ideologia e atuação da Liga Nacionalista de São Paulo (1917-1924)”. Revista de História, USP, São Paulo, nº 116, 1984, p. 67-74. Manor, Paul. “The Liga Nacionalista de São Paulo: a political transformist group in paulista academic of yore 1917-1924”. Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, Colônia/Alemanha, nº 17, 1980, p. 317-353.

[6] Dohms, Hermann. “Vom brasilianischen Katholizismus”. Deutsche Evangelische Blätter für Brasilien, São Leopoldo, ano 7, nº 10, 1925, p. 134-141.

[7] Kreutz, op. cit. Boni, Luís Alberto De. “O catolicismo da imigração: do triunfo à crise”. In: Dacanal, José Hildebrando & Gonzaga, Sérgius (orgs.). RS: imigração e colonização. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992, p. 234-255. Gardolinski, Edmundo. Escolas da imigração polonesa no Rio Grande do Sul. Caxias do Sul/Porto Alegre: UCS/EST, 1977.

[8] Isaía, op. cit., p. 52-53.

[9] Relatório do pastor Erwin Braunschweig, de 31 de janeiro de 1918 (Archiv des Kirchlichen Aussenamts, Berlim, 5/2158).

[10] Rabuske, Arthur. “A nacionalização e a Igreja Católica”. In: Müller Telmo Lauro (org.). Nacionalização e imigração alemã. São Leopoldo: UNISINOS, 1994, p. 157-188. 1º Centenário da Comunidade São José - Porto Alegre-RS: 1871-1971. Porto Alegre: s. e., 1971, p. 39.

[11] Relatório do pastor Braunschweig, ibid. O pastor Braunschweig escreveu: “Esse homem tem como pai um colono alemão que até hoje não sabe falar uma palavra em português”. Isaía cita um trecho do diário do padre Balduíno Rambo no qual este confirma que o pai de D. João Becker não sabia falar português (Isaía, op. cit., p. 71).

[12] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10, 1924, p. 304.

[13] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 1-2, 1925, p. 40; ano XII, nº 4-5, 1926, p. 124.

[14] Diário de Notícias, Porto Alegre, 2 de maio de 1928.

[15] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 3-4, 1924, p. 123-125.

[16] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 5-6, 1924, p. 214.

[17] Estrela do Sul, Porto Alegre, 10 de fevereiro de 1924.

[18] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 11-12, 1924.

[19] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 1-2, 1925, p. 35-37.

[20] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10, 1924, p. 224-237. Cf também Laufer, Frederico. "A Igreja Católica de 1912 a 1957". In: Becker, Klaus (ed.). Enciclopédia Rio-Grandense. Canoas: Editora Regional Ltda., 1957, p. 51.

[21] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 1-2, 1925, p. 36-37.

[22] Unitas, Porto Alegre, ano XIV, nº 6-7, 1927, p. 161.

[23] Unitas, Porto Alegre, ano XIV, nº 10-12, 1927, p. 301.

[24] Estrela do Sul, Porto Alegre, 22 de julho de 1928. Barea se tornou, pouco depois, o primeiro bispo da nova diocese de Caxias do Sul.

[25] Unitas, Porto Alegre, ano XV, nº 1-2, 1928, p. 22.

[26] Unitas, Porto Alegre, ano XV, nº 5-6, 1928, p. 131. Estrela do Sul, Porto Alegre, 13 de maio de 1928.

[27] Estrela do Sul, Porto Alegre, 29 de janeiro de 1928.

[28] Estrela do Sul, Porto Alegre, 2 de fevereiro de 1928.

[29] Estrela do Sul, Porto Alegre, 18 de março de 1928.

[30] Estrela do Sul, Porto Alegre, 1º de janeiro de 1928.

[31] A Associação Cristã de Moços havia sido fundada em Porto Alegre em 1901, mas só teve atuação efetiva desde 1912 (A Federação, Porto Alegre, 3 de julho de 1928). Realizou em janeiro de 1924 um grande congresso nacional em Porto Alegre (Deutsche Post, São Leopoldo, 19 de janeiro de 1924).

[32] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10, 1924, p. 324-327.

[33] Estrela do Sul, Porto Alegre, 2 de março de 1924.

[34] Respectivamente em Estrela do Sul, Porto Alegre, 30 de março de 1924 e Almanaque da Estrela do Sul, Porto Alegre, 1924, p. 30.

[35] O Seminário, São Leopoldo, ano II, nº 5-6, 5 de novembro de 1927.

[36] O Echo, Porto Alegre, ano VII, nº 4, 1920, p. 131.

[37] O Echo, Porto Alegre, ano VII, nº 5, 1920, p. 170-172.

[38] O Echo, Porto Alegre, ano VII, nº 7, 8 e 9, 1920, p. 251-253, 291-292 e 336, respectivamente.

[39] O Echo, Porto Alegre, ano IX, nº 9, 1922, p. 275.

[40] Estrela do Sul, Porto Alegre, 10 de fevereiro de 1924.

[41] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10, 1924, p. 327.

[42] Estrela do Sul, Porto Alegre, 29 de abril de 1928.

[43] Diário de Notícias, Porto Alegre, 7 e 8 de setembro de 1928. Estrela do Sul, Porto Alegre, 16 de setembro de 1928.

[44] Estrela do Sul, Porto Alegre, 25 de dezembro de 1927.

[45] Estrela do Sul, Porto Alegre, 1º de julho de 1928.

[46] Correio do Povo, Porto Alegre, 16 de janeiro de 1928. Estrela do Sul, Porto Alegre, 19 de fevereiro de 1928.

[47] Correio do Povo, Porto Alegre, 15 de maio de 1928.

[48] O Echo, Porto Alegre, ano XII, nº 10, 1925, p. 32.

[49] A Federação, Porto Alegre, 2 de agosto de 1928.

[50] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 4-5, 1926, p. 123.

[51] Der Wegweiser, Porto Alegre, 21 de julho de 1927.

[52] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 30 de abril de 1928.

[53] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 6 de agosto de 1928. Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 7 de agosto de 1928.

[54] Panfleto intitulado "Plano de organização e ação dos Comitês Pró-Liberdade de Consciência", existente na loja maçônica Fraternidade, de Pelotas, e reproduzido como anexo em Amaral, Giana Lange do. Gymnasio Pelotense: a concretização de um ideal maçônico no campo educacional. Pelotas: UFPEL, 1998 (dissertação de mestrado).

[55] Estandarte Christão, Pelotas, 20 de setembro de 1925. Essa edição do jornal publicado pela Igreja Episcopal Brasileira contém uma série de outras informações a respeito do assunto.

[56] Diário de Notícias, Porto Alegre, 18 de setembro de 1925.

[57] Correio do Povo, Porto Alegre, 22 de setembro de 1925.

[58] Correio do Povo, Porto Alegre, 23 de setembro de 1925.

[59] Correio do Povo, Porto Alegre, 25 e 30 de setembro de 1925, respectivamente.

[60] Correio do Povo, Porto Alegre, 29 de setembro de 1925.

[61] Correio do Povo, Porto Alegre, 27 de setembro de 1925.

[62] Estrela do Sul, Porto Alegre, 27 de setembro de 1925.

[63] Correio do Povo, Porto Alegre, 1º de outubro de 1925.

[64] Correio do Povo, Porto Alegre, 1º de outubro de 1925. Sobre o empenho de Collor pela rejeição das "emendas católicas" cf. Diário de Notícias, Porto Alegre, 26 de setembro de 1925.

[65] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 2 de outubro de 1925.

[66] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 7 de outubro de 1925.

[67] Deutsche Post, São Leopoldo, 10 de outubro de 1925.

[68] Mello, Leda Collor de (org.). Retrato de Lindolfo Collor. Santos: s. e., 1990, p. 9.

[69] Ibid., p. 138.

[70] Estrela do Sul, Porto Alegre, 5 de fevereiro de 1928.

[71] Referência a Assis Brasil, que fora candidato da oposição contra Borges de Medeiros em 1922 e que continuava como a principal liderança da oposição gaúcha.

[72] Deutsche Post, São Leopoldo, 19 de fevereiro de 1927.

[73] A Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, publicou o mesmo manifesto em 19 de fevereiro de 1927.

[74] A Federação, Porto Alegre, de 19 de fevereiro publicou, em primeira página, motivado pelos acontecimentos em torno do episódio da investida da UMC contra Collor, um longo editorial historiando a liberdade religiosa no Rio Grande do Sul.

[75] Deutsche Post, São Leopoldo, 12 de dezembro de 1927. Der Wegweiser, Porto Alegre, 22 de dezembro de 1927.

[76] Der Wegweiser, Porto Alegre, 17 e 23 de fevereiro de 1927.

[77] Deutsche Post, São Leopoldo, 19 e 23 de fevereiro de 1927.

[78] Correio do Povo, Porto Alegre, 1º de março de 1927.

[79] A Federação, Porto Alegre, 26 de fevereiro de 1927.

[80] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 11 de abril de 1927.

[81] O Seminário, São Leopoldo, ano IV, nº 3, 1929, p. 74.

[82] Estrela do Sul, Porto Alegre, 1º e 29 de janeiro de 1928.

[83] Estrela do Sul, Porto Alegre, 26 de fevereiro e 20 de março de 1928.

[84] Diário de Notícias, Porto Alegre, 5 de maio de 1928. Estrela do Sul, Porto Alegre, 13 de maio de 1928.

[85] Estrela do Sul, Porto Alegre, 24 de junho de 1928.

[86] Estrela do Sul, Porto Alegre, 16 de setembro de 1928.

[87] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 18 de agosto de 1928.

[88] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 22 de agosto de 1928.

[89] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 8 de setembro de 1928.

[90] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 8 de setembro de 1928.

[91] Não foi possível determinar o significado dessa expressão.

[92] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 12 de setembro de 1928.

[93] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 14 de setembro de 1928.

[94] No dia 13 de setembro haviam sido festejados com grande destaque os 20 anos de episcopado de D. João Becker.

[95] "Pfui!" é uma exclamação que denota forte sentimento de nojo em relação a alguma coisa.

[96] Sobre esse episódio, cf. Gertz, René E. "O nativismo, os teuto-brasileiros católicos e luteranos no Rio Grande do Sul". Revista de Ciências Humanas, UFSC, Florianópolis, vol. 16, nº 24, 1998, p. 43-60. Para uma interpretação que se aproxima da minha, cf. Prien, Hans-Jürgen. Evangelische Kirchwerdung in Brasilien. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd Mohn, 1989, p. 305.