D. João Becker e o nacionalismo
René E. Gertz*
Pucrg e Ufrs
Dentro do processo que os historiadores costumam chamar de
"restauração católica", iniciada no Rio Grande do Sul em torno de
1860[1],
cabe papel de destaque a D. João Becker, que governou a arquidiocese de Porto
Alegre de 1912 a 1946[2].
Ele nasceu em 1870 numa pequena localidade do município de Sankt Wendel, na
Alemanha, mas quando lhe perguntavam sobre o local de nascimento costumava
responder que era de São Vendelino, então distrito do município de Montenegro,
no Rio Grande do Sul. Ao contrário do que se poderia imaginar, não estava,
porém, traduzindo o nome do local de seu nascimento para o português. O que
fazia, de fato, era praticar uma bem consciente distorção histórica. Para as
posições que adotou ao longo de sua vida não convinha admitir que nascera na
Alemanha, pois isso o transformaria em mero brasileiro "adotivo"[3].
Em artigo datado de 1925 o pastor Hermann Dohms, a
principal liderança intelectual do Sínodo Riograndense, a organização
eclesiástica que congregava a maioria dos luteranos do Rio Grande do Sul[4],
escreveu que a aproximação entre catolicismo e nacionalismo no Brasil datava
dos anos da Primeira Guerra, momento a partir do qual se fez sentir uma
crescente presença do protestantismo americano no país. Mesmo que o número de
adeptos de confissões religiosas provenientes dos Estados Unidos não
registrasse um crescimento vertiginoso, aumentou substancialmente a atividade
de movimentos como a Associação Cristã de Moços e, sobretudo, o número de
escolas mantidas por essas denominações. Dohms baseava sua conclusão, entre
outras, numa manifestação do bispo D. Silvério, de Mariana, Minas Gerais, que
em uma carta pastoral de 1921 afirmara: "Proteger, de qualquer forma, a
doutrina protestante constitui crime contra a fé e traição à pátria". Por
outro lado, movimentos nacionalistas brasileiros - como a Liga Nacionalista de
São Paulo, por exemplo[5]
-, em expansão na época, enxergariam na doutrina e na prática da Igreja
Católica um potencial aglutinador do povo da supostamente desarticulada pátria
brasileira. Na revolução de 1923 no Rio Grande do Sul o presidente da
República, Arthur Bernardes, e os nacionalistas paulistas teriam apoiado Assis
Brasil, o primeiro, porque Borges de Medeiros havia ficado do lado do
anti-religioso maçom Nilo Peçanha, os segundos, porque detestavam o
independentismo gaúcho. D. João Becker teria divisado aí uma boa oportunidade
para entrar no jogo e obter dividendos. Teria estabelecido contatos com os
revolucionários e no auge da guerra civil feito uma viagem ao Rio de Janeiro,
onde teria conseguido que os jornais começassem a festejá-lo como mediador da luta
no Rio Grande do Sul. A partir desse momento, Becker se teria atirado de corpo
e alma à construção do "catolicismo político"[6].
D. João Becker, por essa época, já podia apresentar uma
considerável lista de serviços prestados à causa do nacionalismo brasileiro,
que começara a ser composta, o mais tardar, durante a Primeira Guerra Mundial.
Uma parte significativa do catolicismo gaúcho era constituída de imigrantes e
descendentes de alemães, de italianos e de poloneses[7],
e foi sobretudo contra os primeiros que o fervor nacionalista do arcebispo se
voltou, baixando em 1917 uma série de determinações no sentido de que cessassem
os ofícios religiosos em língua alemã nas igrejas e se acabasse com o ensino
nessa língua nas escolas comunitárias católicas[8].
Determinou que o tenente Alcides Rodrigues de Souza ministrasse instrução
militar aos alunos do colégio jesuítico de São Leopoldo[9].
Interveio, de forma cirúrgica, na Igreja São José "dos alemães" de
Porto Alegre, retirando da comunidade os direitos paroquiais; a comunidade,
inconformada, recorreu ao papa contra essa medida, estabelecendo-se uma longa
pendenga, que só em 1925 foi decidida em favor dos queixosos, mas apenas em
1926 o arcebispo se dignou a restituir os direitos que havia cassado 9 anos
antes[10].
Questionado, nesse contexto, por Alberto Bins, respondeu que era
"aliadófilo", que os colonos alemães não passavam de uma "massa
estúpida" e que a imigração alemã não havia trazido ao Rio Grande do Sul
outra contribuição do que o protestantismo, o kantianismo e as cervejarias[11].
Becker, no entanto, não se restringiu a ministrar lições de
brasilidade aos católicos de descendência alemã do Estado. Seu fervor
patriótico levou-o a assumir posição de destaque na seção gaúcha da Liga de
Defesa Nacional, tornando-se seu secretário. E o fervor patriótico o acompanhou
nos anos seguintes. Em 1924, por exemplo, publicou uma carta pastoral sobre a
"Crise do poder temporal", na qual foi efusivo, utilizando-se,
inclusive, de uma adjetivação que denotava um português digno de um verdadeiro
brasileiro: "Haverá alguém entre nós que não deseje a grandeza da Pátria,
a prosperidade da Nação, a glória imarcessível do Brasil?"[12].
O "catolicismo político" de que falava o pastor
Dohms caracterizou-se por uma intensa mobilização interna da igreja e por uma
presença marcante na cena política. Em 1921 Becker lançou a pedra fundamental
da catedral de Porto Alegre, que deveria ficar pronta até o centenário
farroupilha em 1935. Essa obra abriu grandes espaços na imprensa profana e na
imprensa eclesiástica, constituindo-se em importante instrumento de mobilização
católica. O livro de ouro, no qual eram lançadas contribuições para a obra, foi
assinado por pessoas de destaque da política, da economia, das profissões
liberais, da cultura. Padres especialmente designados para a tarefa viajavam
pelas comunidades do interior incentivando os paroquianos a dar sua
contribuição[13]. Em 1924 se
constituiu oficialmente o Centro de Boa Imprensa, na verdade uma empresa para
municiar todo esse movimento com livros, jornais e revistas. Destacaram-se,
nesse sentido, além de livros litúrgicos e de leitura edificante, o reinício da
publicação de um jornal eclesiástico, Estrela
do Sul - paralelo ao órgão oficial da arquidiocese, Unitas - bem como um almanaque anual com o mesmo nome. Para o
público mais intelectualizado foi fundado o Instituto Católico de Ciências e
Letras, que tinha por finalidade, segundo o próprio Becker, “imprimir uma
orientação segura ao movimento intelectual da nossa terra, baseado em
princípios indestrutíveis e doutrinas extremes de erros"[14].
No campo da projeção política ficou conhecido o episódio da
oferta feita a Becker para candidatar-se como senador pela oposição gaúcha nas
eleições de maio de 1924. Na carta pública em que agradeceu pela lembrança
justificou que nas circunstâncias então vigentes não podia aceitar o convite,
mas em nenhum momento afirmou que essa impossibilidade derivava de uma questão
de princípio[15]; pouco
tempo depois advertiu o clero para não imiscuir-se em política, não aceitando
candidaturas nem cargos[16].
Mas a prova de que não via nenhuma incompatibilidade fundamental entre a
militância religiosa e a militância política veio três anos depois, quando
destacou um de seus colaboradores mais próximos, o cônego Nicolau Marx, para
candidatar-se a uma vaga na Assembléia dos Representantes do Rio Grande do Sul
pelo partido governista.
Dentro desse contexto, um dos mais importantes movimentos
desencadeados pelo arcebispo foi a criação das Uniões de Moços Católicos
(UMCs). A nível público a campanha em favor da fundação desse movimento começou
no final de 1923. Na Estrela do Sul
de 8 de novembro desse ano foi publicado abundante material sobre o tema. Na
primeira página destacou-se um artigo sob o título "ACM = Arapuca Contra
Moços", que constituiu uma investida pesada contra a Associação Cristã de
Moços, dizendo que, apesar do título genérico "cristã", se tratava de
um movimento protestante, cujo objetivo seria protestantizar para melhor
americanizar. O texto dizia que para contrapor-se à ACM, D. João Becker teria
lançado a idéia de uma UMC, que funcionaria como "antídoto eficaz contra a
negregada associação norte-americana", "um polvo ianque
metodista-batista-adventista-biblista etc.". O jornal ainda destacou que
já se conseguira lançar a primeira notícia sobre esse novo movimento na
imprensa mundana, na edição de 14 de outubro do Correio do Povo. Em 28 de janeiro de 1924 fundou-se, oficialmente,
a primeira UMC de Porto Alegre, cujo organizador e presidente provisório foi o
comendador Plácido de Castro. O discurso oficial foi do político oposicionista
Plínio Casado. A diretoria regular a partir dessa data passou a ter o arcebispo
como presidente-honorário e Adroaldo Mesquita da Costa, advogado e fervoroso
militante leigo do catolicismo, como presidente efetivo[17].
Em outubro de 1924 foram aprovados pelo arcebispo os estatutos da UMC[18]
e fundou-se o primeiro grupo do interior do Estado, em Cachoeira do Sul[19].
Até 1928 a imprensa se referiu a UMCs também nos municípios de Alegrete, Bento
Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Cruz Alta, Garibaldi, Montenegro,
Novo Hamburgo, Santa Cruz, Santa Maria, São Leopoldo, Taquara e Taquari. A
imprensa mundana passou a publicar freqüentes notícias sobre o movimento, e a
partir de 1927 a Estrela do Sul
manteve uma seção permanente intitulada "Pelas Uniões de Moços
Católicos".
O movimento das UMCs fora fundado em 1915 em Minas Gerais
pelo Dr. Orsini de Castro, com o objetivo de "educar o moço para perfeito
cidadão e destemido católico". Durante oito anos o movimento tivera uma
existência mais ou menos obscura, mas a partir de 1922 começou a expandir-se,
com a fundação de Uniões em São Paulo e depois no Maranhão. Após uma visita a
Minas Gerais, D. João Becker voltou entusiasmado com o que viu e começou a
tomar medidas para sua implantação também no Rio Grande do Sul[20].
Em 1925 já havia 60 Uniões em todo o Brasil, distribuídas em 10 Estados[21].
Cada União era autônoma, mas todas obedeciam aos mesmos princípios de
funcionamento. Para as Uniões de uma mesma diocese constituía-se um Conselho
Regional e a nível estadual havia um Conselho Estadual. Em 15 de junho de 1927
Becker designou o padre Leopoldo Neis como assistente eclesiástico para o
Conselho Regional em formação[22],
cujos membros foram nomeados pouco depois, por sugestão de Neis, sendo eles:
Manoel da Silva Meira (presidente), João Cavalheiro do Amaral (secretário) e
Timóteo A. Cidade (tesoureiro)[23].
Quando o padre Neis deixou o cargo em meados de 1928, foi nomeado para
substituí-lo o padre José Barea, outro clérigo com funções muito próximas ao
arcebispo[24]. Em janeiro
de 1928 fora nomeado o Conselho Estadual, constituído por Carlos Bento
(presidente), Álvaro Cruz (secretário) e Frederico Kessler (tesoureiro)[25],
sendo o padre Antônio Reis indicado assistente eclesiástico[26].
Becker em pessoa deu posse a esse Conselho, em 27 de janeiro de 1928[27].
No decorrer do tempo foram atraídas personalidades de peso para a nova
agremiação. Numa "Festa do Papai", no Teatro São Pedro, foi
registrada a presença dos generais Cypriano da Costa Ferreira e Oscar de
Noronha, além do Dr. Heitor Annes Dias, de Antônio Chaves de Barcellos e de
Mansueto Bernardi[28].
A UMC do bairro São Geraldo admitiu como sócios especiais os professores da
Faculdade de Medicina Pereira Filho e Oscar Pereira[29].
O movimento se expandiu em Porto Alegre, fundando-se Uniões em no mínimo seis
paróquias da capital. O salão da sede central, na Rua Riachuelo 1038, tinha
lugar para reuniões com 600 pessoas[30].
O antiprotestantismo - de forma concreta, sobretudo a
oposição ao metodismo e à Associação Cristã de Moços[31]
- e o nacionalismo foram as características básicas do movimento. Durante os
cinco primeiros anos esses dois aspectos constituíram uma constante nas
notícias sobre as UMCs. Isso transparece tanto nas primeiras notas na Estrela do Sul de 1923, já citadas,
quanto na primeira grande matéria no órgão oficial da arquidiocese, a Unitas. Em sua edição de
setembro/outubro de 1924 lia-se que os principais inimigos da Igreja, no
momento, seriam os "metodistas, sabatistas, americanos propagandistas,
declamadores de conferências" e, por isso, "contra a invasão
protestante, temos a União de Moços Católicos. Em frente aos arraiais da
Associação Cristã de Moços a UMC levantou e acampou suas tropas e desfraldou a
bandeira 'por Deus e pela Pátria'"[32].
E esse tom se repetiu praticamente ao infinito nos anos seguintes. Além da ACM,
os colégios protestantes - mais uma vez sobretudo os metodistas - eram vistos
como outro inimigo figadal da Igreja e da juventude. Esse perigo era
apresentado como bem palpável no início da década de 1920, com o aparecimento
de três desses colégios: o Cruzeiro do Sul, o Americano e o Porto Alegre
College[33].
"Como os protestantes norte-americanos fazem propaganda de sua seita em
seus colégios e por meio de seus colégios, é dever nosso chamar continuamente
contra estas escolas, que são subterrâneos onde se prepara manhosamente a
miragem da unidade nacional e, portanto, de sua soberania e liberdade".
Infelizmente muitos pais católicos não teriam escrúpulos em mandar seus filhos
a esses colégios protestantes, sem se darem conta de que incorriam em
"grande culpa, que a santa Igreja castiga com a excomunhão"[34].
O Seminário, revista editada pelo
seminário dos jesuítas em São Leopoldo, publicou em 1927 um artigo sobre
"O perigo ianque", perguntando se ele de fato existia? A resposta foi
certeira: "Por enquanto há o [perigo] da conquista religiosa, que está
sendo feita pelos metodistas em todos os países da América do Sul"[35].
A Estrela do Sul de 17 de junho de
1928 lançou "um grito de angústia", pois "se não agirmos contra
essa Associação [Cristã de Moços], o nosso solo será, daqui uns 20 anos, uma
terra de 30 milhões de habitantes gemendo sob o peso da escravidão",
"os nossos altares desaparecerão, a religião católica, herança de nossos
avoengas, os crucifixos, os templos, os campanários, os conventos, os colégios
já não existirão no Brasil. Em suma, os nossos pósteros serão luteranos ou
metodistas". Cerca de três semanas depois, em 8 de julho de 1928, a mesma Estrela do Sul contrapôs, em destaque de
primeira página, a UMC à ACM. Enquanto esta última "visa roubar a fé
tradicional aos católicos brasileiros", o objetivo da primeira consistiria
em "servir a Deus na nossa santa religião, praticá-la e levar os seus
princípios para o seio da sociedade, aplicá-los na atividade social, sustentar
com brio e denodo a sua dignidade e liberdade, defendê-la contra ataques".
E duas semanas adiante, em 22 de julho de 1928, o jornal transformou o
"grito de angústia" em grito de guerra da UMC contra a ACM:
"Moços, às armas!". "Si
vis pacem, para bellum! Sejamos quais Tertulianos, defendendo-nos de todos
os ataques dos nossos adversários, que querem minar os fundamentos da
Igreja".
Apesar de os ataques se centrarem basicamente no metodismo
e em suas instituições, este não foi o único alvo da UMC. A Estrela do Sul de 18 de março de 1928
noticiou que houve uma reunião extraordinária do Conselho Regional da UMC para
deliberar sobre "uma campanha enérgica contra a seita adventista, cujos
emissários realizaram um congresso com pregações de propaganda na paróquia da
Glória". E em 23 de setembro do mesmo ano o jornal noticiou que, no bairro
Navegantes, batistas costumavam, nos domingos de manhã, levar para as ruas uma
banda de música, e depois que se juntou um grupo de curiosos a música pára e
começam as pregações, prática contra a qual conviria a UMC investir.
O nacionalismo foi uma constante, tanto no discurso quanto
na prática cotidiana da UMC. As posições nacionalistas que parte significativa
dos membros da Igreja Católica assumiu durante a Primeira Guerra não
desapareceram nos anos seguintes. Folheando-se uma revista destinada à
juventude como o foi O Echo, editado
pelo Colégio Anchieta, encontram-se referências constantes ao nacionalismo nos
anos anteriores ao surgimento da UMC. No número de maio de 1920 foi publicado
um artigo sob o título "O verdadeiro nacionalismo" e seu autor, sob o
pseudônimo Deldor, perguntou: "Onde está o patriota que não vê com
indignação - e com os punhos cerrados - como tantas companhias estrangeiras
camuflam rios de dinheiro brasileiro para Londres, Paris, Nova York, Lisboa e
outras cidades que não são nossas? (...). Urge reagir"[36].
No número de junho apareceu um artigo a favor da Ação Social Nacionalista,
liderada, no Rio de Janeiro, por Epitácio Pessoa, Afonso Celso e pelo cardeal
Arcoverde[37]. Em agosto,
setembro e outubro do mesmo ano foram publicados artigos, respectivamente,
sobre "O progresso do nacionalismo", "Nacioanlismo e ensino
livre" e "Postulados do 'nacionalismo católico'"[38].
Em setembro de 1922 noticiou-se o lançamento, em Porto Alegre, da revista O nacionalista, órgão oficial da Liga
Riograndense Nacionalista, liderada por Carlos Mena Barreto e por Bruno Marsiaj[39].
O nacionalismo, portanto, não foi inventado pela UMC, mas ela se transformou
num dos seus principais mentores e portadores.
Nacionalismo e patriotismo foram temas destacados desde as
primeiras publicações sobre a UMC. Na Estrela
do Sul de 10 de fevereiro de 1924 apelou-se ao "dever patriótico"
dos jovens em ingressar na UMC, que foi considerada um "fascismo
sagrado"[40]. O mesmo
fervor militante apareceu no primeiro texto mais denso sobre o assunto na Unitas, onde se dizia que a organização
"tem caráter militante, daí sua organização de guerra! Destina-se ao
Brasil inteiro, sem bairrismo de Estados. Daí sua hierarquia, respeitando-se as
liberdades necessárias a cada Estado". Esse fervor patriótico estava
também claramente expresso no hino da UMC[41]:
Somos de Cristo Também
da Pátria Avante!
Avante!
Bravos cruzados Somos
guerreiros De
glória em glória,
E, denodados, E,
sobranceiros, Louvor,
vitórias
Sempre havemos de lutar Fá-la-emos
progredir Nós havemos de
alcançar.
Somos a coorte, É
nossa mente E
Deus na altura
Valente e forte, Vê-la
crescente, Nos
dê bravura,
Que a própria morte Quer
no presente, Calma,
segura,
Não nos há de intimidar Quer
no porvir. Para
lutar.
Esse fervor traduziu-se na atividade cotidiana das UMCs
através do festejo das grandes datas nacionais com, no mínimo, a mesma ênfase
com se festejavam os feriados religiosos. O 21 de abril de 1928 foi comemorado
com a apresentação do filme "Dêem asas ao Brasil"[42].
Todas as UMCs de Porto Alegre participaram de intensa programação alusiva ao 7
de setembro do mesmo ano. No bairro Glória, Riograndino da Costa e Silva
proferiu palestra sobre "Deus e Pátria", na qual lamentou a frieza do
povo frente às grandes datas nacionais[43].
Além de convocar os jovens a "alistar-se" na UMC[44],
faziam-se campanhas contra a insubmissão frente aos deveres para com o Exército[45]
e assinavam-se convênios com Tiros de Guerra para a realização de instrução
militar em suas sedes[46].
As notícias em torno desses eventos e dessas campanhas na imprensa laica de
Porto Alegre classificavam a UMC como uma "associação
cívico-religiosa"[47].
Como cívico-religiosa também se pode classificar a proposta de lutar pelo
aumento do número de ruas com nomes de padres em Porto Alegre[48]
e a abertura de "cursos populares", que, além de física, química,
ministravam instrução religiosa e moral e cívica[49].
Só uma UMC de Porto Alegre parece ter destoado do padrão
geral. A Unitas de abril/maio de 1926
informou que D. João Becker aprovara, em 15 de março, os estatutos da UMC -
também chamada de Jugendverein - da
capela São José, que na linguagem popular era cognominada "dos
alemães"[50]. Uma
consulta à imprensa de língua alemã, em especial a católica, fornece uma série
de informações interessantes sobre as atividades dessa UMC. Assim, em julho de
1927 o Jugendverein promoveu uma
festa de família, que constou da abertura por uma banda de música, seguindo-se
canto do coral da juventude, que apresentou músicas folclóricas, encerrando com
uma comédia, Die Welt geht unter (O
mundo vai acabar). Segundo o jornal, foi uma festa de muito riso e diversão[51].
Em abril de 1928 foi noticiada outra festa, que constou de missa às 10 horas da
manhã, na qual o coral da juventude cantou algumas peças clássicas. A parte
mundana ficou um pouco prejudicada pelo mau tempo, já que se realizou na
chácara de Hugo Metzler, no bairro Partenon, mas, mesmo assim, houve dança e
diversão até a noite[52].
Uma festa especial parece ter ocorrido em 5 de agosto de 1928. Ela constou da
apresentação de um conjunto musical no início, seguido de uma série de pequenos
esquetes humorísticos. Depois foi apresentada a comédia Wer zuletzt lacht (Quem ri por último), cujo efeito foram riso e
gargalhadas sem parar. Terminada a peça, iniciou o baile, que foi até a
madrugada. A festa entusiasmou até um repórter do jornal laico Neue Deutsche Zeitung, cujos donos e
redatores eram luteranos[53].
Mas voltemos a D. João Becker e seu movimento unionista, para localizarmos nesse contexto três
acontecimentos que se desenrolaram entre setembro de 1925 e setembro de 1928.
Em 1925 entrou em discussão no Congresso Nacional uma proposta de reforma da
Constituição de 1891. Entre as emendas apresentadas na oportunidade, constavam
duas do deputado paranaense Plínio Marques, que ficaram conhecidas como
"emendas católicas". Uma visava implantar o ensino religioso facultativo
nas escolas públicas e a outra pretendia incluir no texto constitucional uma
declaração de que o catolicismo era a religião da maioria do povo brasileiro.
Essas emendas desencadearam a fundação de Comitês Pró-Liberdade de Consciência
"em todo o território nacional" com a "finalidade suprema e
única [de] propugnar pela plena liberdade de consciência, defendendo a integral
separação entre qualquer culto ou credo religioso e o Estado, de acordo com os
princípios republicanos consignados no Art. 72 da Constituição de 24 de
fevereiro de 1891"[54].
As emendas seriam votadas em fins de setembro de 1925, e nas semanas
precedentes também no Rio Grande do Sul organizaram-se Comitês Pró-Liberdade do
Consciência. No interior do Estado, o de Pelotas foi provavelmente o mais ativo
e de maior abrangência em termos dos grupos participantes. O manifesto do
comitê de Pelotas foi assinado por representantes da loja maçônica
Fraternidade, do Centro Theosóphico Blavatzky, da Igreja Episcopal do Redentor,
da Milícia Cristã, da Ordem Auxiliadora de Senhoras da comunidade luterana do
Sínodo Riograndense, do Centro Espírita Jesus, da Liga Operária, da Sociedade
Auxílio Fraternal das Senhoras Espíritas, da Federação Acadêmica, do Grêmio de
Agronomia e Veterinária, do Grupo Espírita Francisco de Jesus Vernetti, do
Centro Espírita Humildes Filhas de Jesus, da Sociedade União Espírita, do
jornal O Pharol, do Colégio Espírita
Jeremias Fróes, do Grupo Espírita São Bartolomeu, da Sociedade União e
Instrução Espírita, da Escola Prática de Comércio, do jornal O Templário e da União Republicana[55].
Mobilização semelhante à de Pelotas também aconteceu em
Porto Alegre e o mês de setembro se transformou num momento de grandes debates
entre concepções de mundo divergentes. Em 6 de setembro Egydio Hervé, um dos
principais líderes espíritas da época, publicou na seção livre do Correio do Povo extensa carta-aberta
acusando o cônego Nicolau Marx de ser o autor de panfletos anônimos contra o
Espiritismo recentemente distribuídos. No dia 9 o mesmo jornal noticiou a
realização de uma reunião na Associação Cristã de Moços, à qual compareceram
representantes maçons, protestantes e espíritas e onde foi decidida a
realização de um congresso, no final do mês, para uma discussão das
"emendas católicas". Foi constituída uma comissão organizadora do
congresso, composta pelo marechal Carlos Frederico de Mesquita (presidente),
Frank Long (vice), Ataliba Salvaterra (orador) e Eduardo Pacheco de Andrade
(secretário). Foi marcada a data de 28 de setembro para a realização do evento
e enviada correspondência a entidades da capital e do interior, solicitando que
nomeassem delegados. A Getúlio Vargas e ao presidente do Senado foram enviados
telegramas comunicando o fato. Em 13 de setembro o renomado padre Werner von
und zur Mühlen rebateu enfaticamente na seção livre do Correio do Povo a carta de Hervé, afirmando que todas as suas
assertivas eram pueris. No dia 18, o Correio
do Povo noticiou que o Congresso Pró-Manutenção dos Princípios Liberais da
Constituição da República estava a pleno vapor, que um convite formulado a
Flores da Cunha para participar fora aceito e que já havia grande número de
teses inscritas, como "Livre exercício de cultos" de Egydio Hervé,
"Ensino leigo, ensino moral" de Alberto de Brito, "Separação da
Igreja e do Estado" de Paulo Hecker, "Livre manifestação do
pensamento" de Clotário Soares Pinto, "Livre exercício de
profissões" de Alcides Maia[56].
No dia 20, Hervé respondeu ao padre Werner no mesmo jornal e Átila Salvaterra,
uma importante liderança maçônica, lembrou ao clero que quando este atribuiu a
oposição às "emendas católicas" aos maçons, espíritas e protestantes,
estava esquecendo um outro grupo muito importante, os republicanos do PRR.
Lembrou que se pronunciaram contra as emendas Getúlio Vargas, Flores da Cunha,
Lindolfo Collor e, a nível local, Sinval Saldanha, presidente do diretório
porto-alegrense do partido. A comissão organizadora do congresso levou sua
campanha às ruas, realizando em 21 de setembro um comício na Praça da
Alfândega, destinado especialmente aos operários[57].
A partir de 22 de setembro foram publicadas, tanto pelo Correio do Povo quanto pelo Diário
de Notícias, convocações formais para o congresso, assinadas por 25
personalidades. O Concílio Anual das Igrejas Metodistas do Estado, reunido em
17 de setembro em Santa Maria, decidiu pela adesão ao congresso[58].
Henrique Estácio Fischer, presidente da Ação Católica local, publicou em 24 de
setembro no mesmo jornal um "Repto" a Hervé, afirmando uma
"primeira vitória" sobre ele, quando no folheto "Bíblia e
reencarnação" teria ficado provado "pelas Escrituras" que
"o homem vive uma vez só". Simultaneamente foram anunciadas as
adesões de José Montaury e do deputado Victor Russomano ao congresso
anti-emendas. Políticos do interior aderiam a uma ou outra das facções. Celeste
Gobatto, intendente católico de Caxias do Sul, manifestou sua solidariedade
para com a causa católica, Carlos Fett Filho, intendente luterano de Lajeado,
dava seu enfático apoio ao congresso[59].
Apesar de o Sínodo Riograndense não ter-se envolvido de forma direta,
fazendo-se apenas representar pelo metodista Frank Long[60],
o noticiário da imprensa deu destaque ao telegrama enviado pelo seu presidente,
pastor Theophil Dietschi, ao presidente da Câmara dos Deputados, onde, em nome
de 300 comunidades, com 130.000 "almas", protestou contra
"modificação constituição federal possa resultar posição favorecida igreja
católica romana, prejuízo liberdade cultos, pensamento, conquista profundamente
arraigada consciência nacional"[61].
O "congresso maçônico-protestante-espírita" -
como o chamava a imprensa católica[62]
- acabou alcançando um sucesso aparentemente maior do que esperavam seus
organizadores, pois, em vez de um dia só, estendeu-se por três noites (28, 29 e
30 de setembro), lotando o Teatro São Pedro. Além dos delegados e do público da
capital, contou com a presença de 47 delegados do interior do estado,
representando 75 associações, com mais de 200.000 membros[63].
Entre as diversas resoluções e manifestações da última noite, uma, apresentada
por Egydio Hervé, propôs o envio de um telegrama de congratulações a Lindolfo
Collor, "jovem ainda, mas que, nesta santa cruzada, se tem mostrado forte,
pioneiro, escrevendo pela imprensa e angariando assinaturas pela não passagem
das emendas"[64].
Os anais da história brasileira registram que a emenda do
ensino religioso facultativo foi rejeitada e a da declaração do catolicismo
como religião da maioria do povo brasileiro foi retirada por seu autor. Com
isso o tema perdeu espaço no noticiário da grande imprensa de língua
portuguesa, mas continuou, por algum tempo, na imprensa de língua alemã. O
católico Deutsches Volksblatt somente
no dia 28 de setembro trouxe uma matéria sob o título "O congresso de
protesto das filiais de seitas norte-americanas, maçons, espíritas e
teósofos", destacando que no dia 26 o órgão oficial do partido do governo,
A Federação, trouxera uma matéria
editorial sobre o assunto, na qual transpareceria simpatia para com o congresso
anti-emendas previsto para Porto Alegre. Resumiu a essência do texto do jornal
governista e encerrou com a observação irônica, em português, "Está
regulando!". O Volksblatt só
depois do episódio começou a tecer comentários a respeito do assunto. Assim, no
dia 1° de outubro anunciou quem foram os principais opositores às emendas,
destacando Collor, da situação, e Wenceslau Escobar, da oposição. Teceu também
comentários sobre a decantada condição de país católico por parte do Brasil,
considerando que isso era mais teoria do que prática e lembrou que a nível
popular estava fazendo grande estardalhaço, neste momento, em Porto Alegre, o
"professor milagreiro" Mozart Teixeira, espírita; a nível das elites,
incluindo o aparelho de Estado, lembrou que no recente congresso o procurador
do Estado Alberto de Britto investiu pesado contra a Igreja.
No dia 2 de outubro Volksblatt
publicou uma matéria que desencadeou uma polêmica com os principais jornais em
língua alemã, em especial com a Deutsche
Post, de São Leopoldo. Nessa matéria foi comentada a emenda nº 10, que,
segundo o jornal, visava unicamente "o reconhecimento platônico de que a
religião católica é a religião da maioria do povo brasileiro". No dia
seguinte, a Deutsche Post publicou um
editorial de duas páginas inteiras sobre o tema, assinado por seu editor,
Martin Fischer. Esse editorial abordou um grande número de aspectos da questão,
mas a essência estava nas considerações sobre os efeitos de uma eventual
aprovação das emendas. Em relação à primeira, a do ensino religioso
facultativo, destacou que as igrejas protestantes não possuíam pastores e
professores suficientes para ministrar as aulas nos colégios públicos e isso
poderia ter sérias conseqüências pedagógicas para essas crianças, que se
sentiriam abandonadas no momento em que as crianças católicas entrassem para
suas aulas de religião. Participar das aulas dos católicos representaria, por
sua vez, um risco à sua fé protestante. A discriminação já existiria, sem
ensino religioso - citou um exemplo recente em que um padre promoveu uma
procissão de Corpus Christi com
alunos de uma escola pública; quando a procissão terminou, o padre teria
distribuído balas às crianças que haviam participado, mas as crianças
protestantes, que também estavam presentes, não teriam recebido balas. Fischer
insistiu em que a Igreja Católica não se contentaria com o ensino religioso, e
citou o próprio Volksblatt, que teria
comentado que o ensino religioso sozinho não bastava quando o professor das
demais disciplinas era ateu. Isso mostraria muito claramente que a aprovação da
emenda seria apenas o primeiro passo na tentativa de implantação da escola
pública confessional. Além disso, Fischer lembrou que o ensino religioso nas
escolas públicas certamente seria em português e isso contrariaria um princípio
básico do Sínodo Riograndense, que considerava fundamental que o Evangelho
fosse pregado aos fiéis na sua língua-mãe.
Mas Fischer insistiu em que, ao contrário do que se viu na
maioria das manifestações contra e a favor, a segunda emenda era muito mais
perigosa do que a primeira. E retomou a manifestação do Volksblatt de que não se tratava de nada mais do que de uma
"declaração platônica". Sendo apenas platônica, não haveria razão
para colocá-la na constituição, um documento importante demais para se colocar
nele algo sem sentido prático. Fischer considerou que havia um movimento
comandado a partir de Roma, iniciado num grande acordo por ocasião da eleição
de Arthur Bernardes contra o maçom Nilo Peçanha e que faria parte de uma
estratégia geral, que a nível europeu consistiria na celebração de concordatas
com diversos Estados. A "declaração platônica", uma vez incluída no
texto constitucional, abriria as portas para a investida do catolicismo para
conquistar espaço cada vez maior, até chegar ao objetivo última, a
reimplantação do catolicismo como religião oficial do Brasil. A Neue Deutsche Zeitung defendeu posição
muito semelhante, destacando que a emenda nº 10 era muito pior do que a nº 9,
porque a "declaração platônica", com certeza, uma vez aprovada e
incluída na constituição, seria preenchida, de forma arbitrária, de conteúdo[65].
Volksblatt revidou, dizendo que a Deutsche
Post estava mancomunada com "comunistas e filiais de seitas
norte-americanas". Numa argumentação silogística, apresentou o Sínodo
Riograndense como responsável último pelo congresso anti-emendas realizado em
Porto Alegre. Segundo informações prestadas pelos organizadores do evento,
teriam estado ali representadas associações que somavam cerca de 200.000
membros de todo o Rio Grande do Sul; como o telegrama do pastor Dietschi ao presidente
da Câmara dos Deputados afirmou que o Sínodo possuía 130.000 fiéis, a conclusão
lógica era que a absoluta maioria daqueles que haviam sustentado o congresso
eram membros do Sínodo[66].
A Deutsche Post voltou a atacar,
quando a imprensa nacional começou a noticiar que, após a derrota das emendas,
importantes círculos católicos estariam articulando a criação de um partido
católico. Isso demonstraria que o catolicismo estava firmemente empenhado em
implantar uma política católica no Brasil, coisa que para o luteranismo era
absolutamente inconcebível[67].
Essas alfinetadas recíprocas perduraram por algumas semanas.
O episódio das "emendas católicas" repercutiu
quase um ano e meio depois, nas eleições legislativas federais de fevereiro de
1927, envolvendo Lindolfo Collor. Os pais desse político teriam sido luteranos,
mas ele estudou num colégio episcopal, e até os 19 anos teria sido militante
dessa confissão religiosa[68].
Mais tarde teria abandonado sua militância protestante e também esquecido sua
ascendência germânica. Vianna Moog relata que era considerado pouco alemão por
aqueles que se consideravam alemães e que, apesar de os católicos o
considerarem protestante, tinha hábitos católicos[69].
De fato, ele representava uma trava no olho da Igreja Católica. Só num momento
esta pôde festejar uma vitória. Foi no início de 1928, quando ele se candidatou
a uma vaga na Academia Brasileira de Letras e foi derrotado pelo bispo e
ex-presidente de Mato Grosso, D. Francisco de Aquino Correa. A Estrela do Sul[70]
exultou nessa oportunidade. A alegria do jornal da arquidiocese de Porto Alegre
tinha sua razão de ser, pois entrementes havia acontecido sua candidatura e
eleição para um segundo mandato de deputado federal.
Estava em andamento a campanha para as eleições
legislativas federais de 24 de fevereiro de 1927, em que Collor foi novamente
candidato. A 3 de fevereiro, o vigário de São Leopoldo, padre jesuíta Carlos
Doppler, resolveu fundar uma UMC, e a primeira resolução da nova entidade foi
desencadear uma campanha pelo boicote eleitoral a Collor. No dia 9 de fevereiro
Deutsches Volksblatt publicou uma
proclamação, assinada pela UMC de São Leopoldo, em que foi lembrada a pastoral
coletiva dos bispos do Brasil meridional de 1915, que determinava que nenhum
católico poderia votar num inimigo declarado da Igreja. E Collor era inimigo
declarado da Igreja. A reação não se fez esperar. Em 16 de fevereiro A Federação, órgão oficial do Partido
Republicano Riograndense, publicou uma série de declarações formais de membros
do partido em São Leopoldo informando que não tinham participado da fundação da
UMC, não tinham concordado em aceitar cargos na entidade, como havia sido
publicado no Diário de Notícias do
dia 5 de fevereiro, e muito menos endossavam a campanha contra Collor. A Federação publicou ainda um manifesto
de "católicos de São Leopoldo" contra a UMC local e a favor de
Collor, dizendo que "só a perversidade e o odiento espírito de revolta que
dominam o assisismo[71]
é que poderiam lembrar-se, nesta hora, em plena paz e sob a completa soberania
da lei, de lançar mão de mais esse triste pretexto para continuar a cizânia na
família riograndense".
Alguns dias depois a Deutsche
Post esclareceu os acontecimentos[72].
O padre Doppler teria pretensões políticas e estaria apostando na oposição. Daí
a campanha contra Collor. A inesperada reação de parte dos republicanos
católicos de São Leopoldo o teria levado a uma tentativa de consertar o
estrago. Assim, a partir de 17 de fevereiro o Deutsches Volksblatt publicou novo manifesto, nos mesmos termos do
anterior, mas nessa versão conclamando ao boicote não só contra Collor, mas
também contra Wenceslau Escobar, da oposição[73].
Entrementes o padre teria entrado em férias[74];
no final do ano deixou São Leopoldo, transferido para o norte do Brasil[75].
A situação criada pelo padre foi incômoda para muitos católicos, obrigando-o a
justificar-se no domingo, do púlpito, afirmando que defendia princípios, e que
princípios que não geram conseqüências práticas não seriam princípios. O jornal
católico Der Wegweiser rebateu,
dizendo que associações ligadas à Igreja deveriam ter o máximo de cuidado
quando emitem posicionamentos políticos, e sempre que tratassem delas deveriam
falar somente depois de uma consulta a assembléias com representação da
comunidade. O Volksblatt, ligado aos
próprios jesuítas, teria defendido a necessidade do aval das autoridades
eclesiásticas em situações semelhantes[76].
Durante a campanha, os republicanos saíram em defesa de
Collor. O deputado Ariosto Pinto, em passagem por São Leopoldo, no dia 18 de
fevereiro, procurou mostrar que Collor não era inimigo da Igreja, que alguns
anos antes, quando José Guilherme de Morais deixou um significativo legado para
a construção da catedral, deu - então na condição de deputado estadual - um
parecer favorável para que esse legado ficasse livre dos impostos legais. O
subintendente do município, Frederico Wolfenbüttel, destacou que Collor era um
membro fiel do PRR e que este nunca foi contra a Igreja, opondo-se, por
exemplo, no início da República, à proposta de expulsão dos jesuítas[77].
Nas eleições, o veredicto do eleitorado foi muito favorável a Collor. Obteve no
primeiro distrito eleitoral 48.893 votos, enquanto o segundo colocado alcançou
40.044[78].
A Federação festejou: "Os
opositores à candidatura de Lindolfo Collor, derrotados no seu próprio reduto
pelas arregimentadas e disciplinadas forças republicanas, devem a esta hora
amargar ao peso da mais vergonhosa decepção... Exultemos, mais uma vez, com o
triunfo obtido por Collor!"[79].
A vitória, no entanto, se mostraria ainda mais extraordinária, quando as
notícias dos outros Estados deram conta de que ele fora o segundo deputado mais
votado de todo o Brasil. E a vitória se tornou apoteótica, quando, algum tempo
depois, a comissão de verificação de poderes anulou um certo número de votos do
primeiro colocado, Júlio Prestes, de São Paulo, e Collor acabou sendo o
deputado mais votado em todo o país nas referidas eleições[80].
Esse revés, no entanto, parece não ter afetado a UMC de São
Leopoldo. A diretoria provisória escolhida em 3 de fevereiro de 1927 dirigiu a
entidade até 7 de novembro daquele ano, quando foi eleita uma diretoria
efetiva. Iniciando com 47 sócios, chegara a 187 no final do ano e durante 1928
chegou aos 301[81]. Na
imprensa de Porto Alegre, eclesiástica e profana, encontram-se notícias
freqüentes sobre atividades da UMC de São Leopoldo. Para o período de 8 a 14 de
janeiro de 1928 foi programada uma semana de retiros espirituais no seminário
dos jesuítas, cuja freqüência teria sido de 88 pessoas por noite, em média[82].
Em fevereiro foi inaugurada a primeira aula noturna com 50 alunos[83].
O Primeiro de Maio foi comemorado com uma palestra de Adroaldo Mesquita da
Costa[84].
Na procissão de Corpus Christi, em
junho, os unionistas compareceram em número de 200[85].
No 7 de Setembro realizou-se mais uma vez uma palestra de Adroaldo Mesquita da
Costa[86]
e a partir dali se realizariam palestras semanais. No mesmo mês de setembro foi
criado um Departamento de Caridade, noticiado pelo Correio do Povo no dia 25. As
atividades da associação eram consideradas tão dignas de publicidade que em 19
de setembro o mesmo jornal noticiou a inauguração de uma nova loja de Ernesto
S. Bohrer, membro da diretoria da UMC, e o comparecimento maciço dos demais
membros.
Passado o episódio Collor com a UMC de São Leopoldo, a UMC
de Porto Alegre estaria presente num outro episódio importante, em setembro de
1928. Veio nesse ano a Porto Alegre uma companhia de teatro alemã, que se
apresentava no Teatro São Pedro ao público de fala alemã da capital. Seu
diretor era Roman Riesch. Nesse ano a companhia tinha no seu programa, que
iniciou em 1º de setembro algumas peças de Ludwig Anzengruber e de outros
autores, cujo conteúdo era crítico em relação a alguns aspectos do catolicismo.
A Neue Deutsche Zeitung, no seu primeiro
comentário mais substancial sobre o programa, não mediu palavras: “Baba-se” ao
ver o programa, “só bombons! Quem não sair correndo direto ao São Pedro [para
comprar entradas] que vá ao deserto para divertir-se com chacais e com pulgas!”[87].
O Deutsches Volksblatt não fez
comentários tão efusivos, apesar de ter acompanhado com interesse a presença da
companhia alemã[88]. Iniciada a
temporada de apresentações, a Neue
Deutsche Zeitung continuou com seu entusiasmo, destacando, por exemplo, que
durante a apresentação da opereta camponesa A
noite de núpcias “a casa ficou extasiada”[89].
Já o Volksblatt tinha algumas
restrições; admitia que a peça apresentava um “humor natural” e que o
desempenho dos atores fora bom, mas anotou que o texto apresentava algumas
ambivalências[90]. As
divergências na avaliação do programa da companhia alemã, no entanto, ficaram
patentes nos comentários sobre a peça Die
Kreuzelschreiber[91], uma
comédia camponesa, de Anzengruber. A Neue
Deutsche Zeitung comparou o ímpeto do autor a Shakespeare; admitiu que o
texto era um pouco “seco”, por não ser sentimental e por isso teria sido
acusado, falsamente, de ser contra pastores e burocratas, mas ele só
apresentaria a realidade tal qual ela é. Assim, estaria em perfeita sintonia
com o Nazareno[92]. Já o Volksblatt, nesse mesmo dia, afirmou que
o autor seria livre-pensador, sem ser anticlerical, mas se valeria do ridículo
para obter efeitos teatrais e com isso distorceria a verdade. As posições dos
dois jornais, porém, se tornaram definitivamente antagônicas na avaliação da
peça Die Wallfahrt (A peregrinação),
de R. Manz, antagonismo que certamente foi aguçado pelo fato de que esta peça
teve o maior público. Enquanto a Neue
Deutsche Zeitung afirmou, jocosamente, que não era peça para jovens moças e
que, portanto, não deveria ser freqüentada por quem não a suportasse, o Volksblatt rebateu dizendo que uma peça
que esteve proibida na Alemanha não deveria ter sido trazida para Porto Alegre,
e que não se tratava de gostar ou não gostar, pois a peça seria injuriosa ao
catolicismo, e injúria contra a religião de quem quer que seja não seria uma
simples questão de gosto[93].
O auge da contenda, no entanto, seria atingido na avaliação
da peça Aus der Art geschlagen (O
degenerado), de Anzengruber. Nessa peça o personagem central é o capelão
Ruesch, um padre brilhante e bom. Acontece que o título da peça o classificou
como “fora do padrão”, como exceção. A apresentação dessa peça estava prevista
para o dia 16 de setembro, mas no dia 14 apareceu na seção livre do Diário de Notícias uma matéria
intitulada “Aos católicos de Porto Alegre”, assinada “por um grupo de
católicos”. A matéria começou lembrando as recentes homenagens prestadas ao
papa, razão pela qual não seria possível aceitar o ocorrido no dia 11, no
Teatro São Pedro, quando uma “companhia estrangeira” o teria ridicularizado[94].
O Brasil seria um país que sempre se teria mostrado aberto aos estrangeiros,
mas não se poderia permitir que viessem para cá ofender a “religião tradicional
dos brasileiros”. O país manteria relações diplomáticas com a Santa Sé, e por
isso teria o dever de impedir que seu soberano fosse ofendido. Daí a veemente
conclamação para impedir a injúria, - maior que as anteriores - prevista para o
dia 16.
Riesch respondeu “aos católicos de Porto Alegre”, na mesma
seção do Diário de Notícias, no dia
15 de setembro, apontando para a hipocrisia de certos católicos e de outros que
“desnaturam a verdade, adulteram os fatos positivos e, esgazeando os olhos,
penetram no terreno da instigação”. Lembrou que as peças de Anzengruber vinham
sendo apresentadas há cerca de meio século pelo mundo afora, sem que tivessem
sido contestadas, como o foram em Porto Alegre. Não haveria registro de que o
papa se tivesse manifestado contra elas. A companhia já teria estado em várias
cidades brasileiras e em nenhuma delas teria havido qualquer oposição, - pelo
contrário, o sucesso teria sido muito grande. No entanto, como saberia que
católicos de Porto Alegre estariam planejando um escândalo, comunicou que
resolvera retirar a peça contestada do programa. A nota terminava lamentando a
falta de coragem dos autores em assinar seu texto. A réplica do “grupo de
católicos” foi publicada no dia 16, no mesmo jornal e na mesma seção, e dizia
que, como Riesch anunciara a retirada da peça atentatória ao sacerdócio do
programa, o incidente estaria encerrado, ainda mais que alguém que injuriou a
dignidade dos católicos não estaria qualificado para um debate maior.
O assunto deixou as páginas da imprensa de língua
portuguesa, mas reverberou forte na imprensa de língua alemã. A Neue Deutsche Zeitung de 14 de setembro
se insurgiu em termos duros contra a invocação de sentimentos nacionais numa
disputa em torno de uma divergência de caráter religioso. O jornal afirmou que
suspeitava que entre os signatários não assumidos do documento dos “católicos”
houvesse gente cujos avós ou pais também eram “adventícios”, como aqueles
contra os quais se investira no documento. Se fosse assim, só haveria uma
palavra para eles: “Pfui!”[95].
O jornal historiou os fatos: a coisa teria começado com a peça Die Wallfahrt, uma sátira de Manz,
contra a qual se teria tentado obter uma proibição por parte da censura. Como
essa estratégia teria falhado, se teria tentado desencadear, através da matéria
no Diário de Notícias, um pequeno Kulturkampf em relação à peça Aus der Art geschlagen. Como não havia
nada de objetivo contra a peça, se teria apelado para slogans. Nada na peça se voltaria contra o papa ou contra
princípios da Igreja Católica. Na verdade tratar-se-ia de uma brutal agressão
contra a liberdade de expressão no Brasil.
No dia seguinte,15 de setembro, o Volksblatt rebateu as críticas da Neue Deutsche Zeitung, dizendo que não haveria necessidade de
elementos objetivos de injúria numa peça, pois só o próprio católico decidiria
se seus sentimentos foram atingidos. O jornal deu sua versão dos antecedentes:
tudo teria sido feito no âmbito da própria comunidade alemã de Porto Alegre
para obter a suspensão da peça; mas como esses esforços teriam sido em vão,
“círculos católicos externos” teriam sido envolvidos, o que teria sido muito
lamentável, mas a culpa teria sido daqueles que não se dispuseram a fazer
concessões.
Nesse ponto, a polêmica começou a extrapolar o âmbito da
imprensa de Porto Alegre. Em 15 de setembro a Deutsche Post, de São Leopoldo, tomou posição num longo texto sob o
título “O clamor pela fogueira”. O jornal começou chamando os católicos que
assinaram a manifestação do Diário de
Notícias de “anões ridículos” que não tiveram coragem de fornecer seus
nomes. O incidente foi considerado muito sério, pois aqui se teria
instrumentalizado a religião com objetivos políticos. A Riesch-Bühne seria
constituída de católicos e a peça não teria sido considerada ofensiva pela
Igreja, pois o autor não seria nenhum desconhecido e, mesmo assim, sua peça não
estaria no Index. O ridículo estaria
no fato de que um grupo de católicos de Porto Alegre resolveu dar um puxão de
orelha no papa por sua clamorosa falha em não proibir a peça. A Deutsche Post considerou que a Neue Deutsche Zeitung estava correta
quando destacou que, além de uma disputa interconfessional, se tratava muito
mais de uma “instigação nativista”. Uma exegese da linguagem mostraria isso:
“tradicional religião dos brasileiros”, “adventícios”; um telegrama da União de
Moços Católicos de São Leopoldo falaria de uma “insolente companhia
estrangeira” e de “ideais religiosos brasileiros”. "Serão os ideais
católicos dos alemães diferentes dos de brasileiros?", indagou o jornal. A
matéria terminava perguntando de onde setores da população não teuta sabiam da
peça e de seu conteúdo? Seria evidente que alguém os informara a respeito. A Deutsche Post endossou, por tudo isso,
o comentário da Neue Deutsche Zeitung
e também aplicou um “Pfui!”.
Mas a Deutsche Post
não se contentou com esse artigo, e no dia 17 voltou, sob o mesmo título, ao
assunto. Admitiu como válido, em tese, o argumento de que os sentimentos
religiosos de uma pessoa não podem ser ridicularizados e que nesse caso não
valeria o princípio de quem não gosta não vá. Mas o jornal argumentou que, no
caso em apreço, a coisa não era bem assim. Anzengruber não quer ridicularizar o
catolicismo; ele se volta contra excrescências, que existem em todas as
religiões, também na católica. Deutsche
Post voltou a insistir que se a peça fosse injuriosa contra o catolicismo,
a autoridade máxima do catolicismo, o papa, já se teria manifestado, e a peça
estaria no Index. Como isso não
aconteceu, tentou-se criar, de forma propositada e artificial, um problema com
objetivos escusos. Por que o manifesto do “grupo de católicos” não foi
publicado no Volksblatt e sim num
jornal mundano de língua portuguesa? Finalizou dizendo que apoiava o Volksblatt em seu lamento pelo fato de
que o assunto extrapolou a comunidade de origem alemã de Porto Alegre. Com
isso, além de objetivos escusos, o incidente constituiria uma traição à etnia.
No dia 21 de setembro Deutsches
Volksblatt publicou, na forma de “a pedido”, um esclarecimento que visou
sobretudo rebater a acusação feita tanto pela Neue Deutsche Zeitung quanto pela Deutsche Post de que se tratava de uma “instigação nativista”. Os
abaixo assinados esclareceram que a peça Die
Kreuzelschreiber foi contestada porque atacava o dogma da infalibilidade, e
Die Wallfahrt porque defendia uma
“moral frouxa” e ridicularizava costumes católicos. A oposição mais incisiva
teria visado, porém, Aus der Art
geschlagen, onde um padre bom e brilhante, Ruesch, que poderia ser
festejado como herói da Igreja, era apresentado como a exceção, enquanto seu
contraponto, o padre Lippmann, um canalha, era apresentado como o normal, a
regra. A peça teria, com isso, trazido para dentro da comunidade de origem
alemã de Porto Alegre um confronto confessional. Os abaixo-assinados teriam
recorrido a várias personalidades dessa comunidade para que se empenhassem
junto a Riesch para que fizesse concessões. Mas a resposta de Riesch teria sido
um sonoro “Não!”. Com isso teriam estado esgotados os meios de chegar até
Riesch “internamente”. Teria havido um recurso às autoridades fiscalizadoras de
espetáculos teatrais, e com isso a coisa teria extrapolado o grupo étnico,
desencadeando-se a declaração da UMC no Diário
de Notícias, que tinha como objetivo pressionar a censura, que até então se
mostrara liberal em relação ao caso. O acontecido não poderia ser classificado
como “instigação nativista”, porque todos os signatários do presente documento
participaram de todo esse episódio. Os signatários declaravam o caso por
encerrado, mas alertavam que em situação idêntica não teriam dúvida em agir da
mesma forma. O documento estava assinado por várias lideranças da Comunidade
São José "dos alemães".
Exatamente uma semana depois da publicação dessa declaração deu-se o empastelamento da Deutsche Post, de São Leopoldo, que pode ser considerado o ponto culminante de todo o processo de aproximação de D. João Becker com o nacionalismo brasileiro[96].
*
Professor nos Departamentos de História da PUCRS e da UFRGS, Porto Alegre,
Brasil.
[1]
Kreutz, Lúcio. O professor paroquial:
magistério e imigração alemã. Caxias do Sul/Florianópolis/Porto Alegre:
UCS/UFSC/UFRGS, 1991. Rambo,
Arthur Blásio. “A igreja da restauração católica no Brasil meridional“. In: Dreher, Martin N. (org.). Populações rio-grandenses e modelos de igreja.
Porto Alegre/São Leopoldo: EST/Sinodal, 1998, p. 147-162.
[2] O
trabalho mais completo sobre D. João Becker, com ênfase especial sobre o
período pós-1930, é Isaía, Artur Cesar. Catolicismo
e autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. Cf.
também Rambo, Arthur Blásio. “D. João Becker, perfil de um bispo
rio-grandense”. In: Dreher, op. cit.,
p. 226-240.
[3] O
jornal católico Der Wegweiser, de
Porto Alegre, ao lembrar o 56º aniversário de Becker, afirmou que ele nasceu em
Harmonia, Montenegro (Der Wegweiser,
23 de fevereiro de 1927). Isaía destaca que numa biografia publicada por
ocasião de sua morte, em 1946, se omitiu o local de nascimento (Isaía, op. cit.,
p. 54).
[4]
Sobre Dohms e o Sínodo Riograndense cf. Dreher, Martin Norberto. Igreja e germanidade. São Leopoldo/Porto
Alegre: Sinodal/EST, 1984.
[5]
Sobre a Liga cf. Bandecchi, Brasil. Liga
Nacionalista. São Paulo: Parma, 1980. Levi-Moreira, Sílvia. “Ideologia e
atuação da Liga Nacionalista de São Paulo (1917-1924)”. Revista de História, USP, São Paulo, nº 116, 1984, p. 67-74. Manor,
Paul. “The Liga Nacionalista de São Paulo: a political transformist group in
paulista academic of yore 1917-1924”. Jahrbuch
für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas,
Colônia/Alemanha, nº 17, 1980, p. 317-353.
[6] Dohms, Hermann. “Vom brasilianischen
Katholizismus”. Deutsche
Evangelische Blätter für Brasilien, São Leopoldo, ano 7, nº
10, 1925, p. 134-141.
[7]
Kreutz, op. cit. Boni, Luís Alberto De. “O catolicismo da imigração: do triunfo
à crise”. In: Dacanal, José Hildebrando & Gonzaga, Sérgius (orgs.). RS: imigração e colonização. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1992, p. 234-255. Gardolinski, Edmundo. Escolas da imigração polonesa no Rio Grande
do Sul. Caxias do Sul/Porto Alegre: UCS/EST, 1977.
[8] Isaía, op. cit., p. 52-53.
[9]
Relatório do pastor Erwin Braunschweig, de 31 de janeiro de 1918 (Archiv des
Kirchlichen Aussenamts, Berlim, 5/2158).
[10]
Rabuske, Arthur. “A nacionalização e a Igreja Católica”. In: Müller Telmo Lauro (org.). Nacionalização e imigração alemã.
São Leopoldo: UNISINOS, 1994, p. 157-188. 1º
Centenário da Comunidade São José - Porto Alegre-RS: 1871-1971. Porto
Alegre: s. e., 1971, p. 39.
[11]
Relatório do pastor Braunschweig, ibid.
O pastor Braunschweig escreveu: “Esse homem tem como pai um colono alemão que
até hoje não sabe falar uma palavra em português”. Isaía cita um trecho do
diário do padre Balduíno Rambo no qual este confirma que o pai de D. João
Becker não sabia falar português (Isaía, op.
cit., p. 71).
[12] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10,
1924, p. 304.
[13] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 1-2,
1925, p. 40; ano XII, nº 4-5, 1926, p. 124.
[14] Diário de Notícias, Porto Alegre, 2 de
maio de 1928.
[15] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 3-4,
1924, p. 123-125.
[16] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 5-6,
1924, p. 214.
[17] Estrela do Sul, Porto Alegre, 10 de
fevereiro de 1924.
[18] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 11-12,
1924.
[19] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 1-2,
1925, p. 35-37.
[20] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10,
1924, p. 224-237. Cf também Laufer, Frederico. "A Igreja Católica de 1912
a 1957". In: Becker, Klaus (ed.).
Enciclopédia Rio-Grandense.
Canoas: Editora Regional Ltda., 1957, p. 51.
[21] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 1-2,
1925, p. 36-37.
[22] Unitas, Porto Alegre, ano XIV, nº 6-7,
1927, p. 161.
[23] Unitas, Porto Alegre, ano XIV, nº 10-12,
1927, p. 301.
[24] Estrela do Sul, Porto Alegre, 22 de
julho de 1928. Barea se tornou, pouco depois, o primeiro bispo da nova diocese
de Caxias do Sul.
[25] Unitas, Porto Alegre, ano XV, nº 1-2,
1928, p. 22.
[26] Unitas, Porto Alegre, ano XV, nº 5-6,
1928, p. 131. Estrela do Sul, Porto
Alegre, 13 de maio de 1928.
[27] Estrela do Sul, Porto Alegre, 29 de
janeiro de 1928.
[28] Estrela do Sul, Porto Alegre, 2 de
fevereiro de 1928.
[29] Estrela do Sul, Porto Alegre, 18 de
março de 1928.
[30] Estrela do Sul, Porto Alegre, 1º de
janeiro de 1928.
[31] A
Associação Cristã de Moços havia sido fundada em Porto Alegre em 1901, mas só
teve atuação efetiva desde 1912 (A
Federação, Porto Alegre, 3 de julho de 1928). Realizou em janeiro de 1924
um grande congresso nacional em Porto Alegre (Deutsche Post, São Leopoldo, 19 de janeiro de 1924).
[32] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10,
1924, p. 324-327.
[33] Estrela do Sul, Porto Alegre, 2 de março
de 1924.
[34]
Respectivamente em Estrela do Sul,
Porto Alegre, 30 de março de 1924 e Almanaque
da Estrela do Sul, Porto Alegre, 1924, p. 30.
[35] O Seminário, São Leopoldo, ano II, nº
5-6, 5 de novembro de 1927.
[36] O Echo, Porto Alegre, ano VII, nº 4,
1920, p. 131.
[37] O Echo, Porto Alegre, ano VII, nº 5,
1920, p. 170-172.
[38] O Echo, Porto Alegre, ano VII, nº 7, 8 e
9, 1920, p. 251-253, 291-292 e 336, respectivamente.
[39] O Echo, Porto Alegre, ano IX, nº 9,
1922, p. 275.
[40] Estrela do Sul, Porto Alegre, 10 de
fevereiro de 1924.
[41] Unitas, Porto Alegre, ano XI, nº 9-10,
1924, p. 327.
[42] Estrela do Sul, Porto Alegre, 29 de
abril de 1928.
[43] Diário de Notícias, Porto Alegre, 7 e 8
de setembro de 1928. Estrela do Sul,
Porto Alegre, 16 de setembro de 1928.
[44] Estrela do Sul, Porto Alegre, 25 de
dezembro de 1927.
[45] Estrela do Sul, Porto Alegre, 1º de
julho de 1928.
[46] Correio do Povo, Porto Alegre, 16 de
janeiro de 1928. Estrela do Sul,
Porto Alegre, 19 de fevereiro de 1928.
[47] Correio do Povo, Porto Alegre, 15 de
maio de 1928.
[48] O Echo, Porto Alegre, ano XII, nº 10,
1925, p. 32.
[49] A Federação, Porto Alegre, 2 de agosto
de 1928.
[50] Unitas, Porto Alegre, ano XII, nº 4-5, 1926,
p. 123.
[51] Der Wegweiser, Porto Alegre, 21 de julho
de 1927.
[52] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 30
de abril de 1928.
[53] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 6 de
agosto de 1928. Neue Deutsche Zeitung,
Porto Alegre, 7 de agosto de 1928.
[54]
Panfleto intitulado "Plano de organização e ação dos Comitês Pró-Liberdade
de Consciência", existente na loja maçônica Fraternidade, de Pelotas, e
reproduzido como anexo em Amaral, Giana Lange do. Gymnasio Pelotense: a concretização de um ideal maçônico no campo educacional.
Pelotas: UFPEL, 1998 (dissertação de mestrado).
[55] Estandarte Christão, Pelotas, 20 de
setembro de 1925. Essa edição do jornal publicado pela Igreja Episcopal
Brasileira contém uma série de outras informações a respeito do assunto.
[56] Diário de Notícias, Porto Alegre, 18 de
setembro de 1925.
[57] Correio do Povo, Porto Alegre, 22 de
setembro de 1925.
[58] Correio do Povo, Porto Alegre, 23 de
setembro de 1925.
[59] Correio do Povo, Porto Alegre, 25 e 30
de setembro de 1925, respectivamente.
[60] Correio do Povo, Porto Alegre, 29 de
setembro de 1925.
[61] Correio do Povo, Porto Alegre, 27 de
setembro de 1925.
[62] Estrela do Sul, Porto Alegre, 27 de
setembro de 1925.
[63] Correio do Povo, Porto Alegre, 1º de
outubro de 1925.
[64] Correio do Povo, Porto Alegre, 1º de
outubro de 1925. Sobre o empenho de Collor pela rejeição das "emendas
católicas" cf. Diário de Notícias,
Porto Alegre, 26 de setembro de 1925.
[65] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 2
de outubro de 1925.
[66] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 7 de
outubro de 1925.
[67] Deutsche Post, São Leopoldo, 10 de
outubro de 1925.
[68]
Mello, Leda Collor de (org.). Retrato de
Lindolfo Collor. Santos: s. e., 1990, p. 9.
[69] Ibid., p. 138.
[70] Estrela do Sul, Porto Alegre, 5 de
fevereiro de 1928.
[71]
Referência a Assis Brasil, que fora
candidato da oposição contra Borges de Medeiros em 1922 e que continuava como a
principal liderança da oposição gaúcha.
[72] Deutsche Post, São Leopoldo, 19 de
fevereiro de 1927.
[73] A
Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre,
publicou o mesmo manifesto em 19 de fevereiro de 1927.
[74] A Federação, Porto Alegre, de 19 de
fevereiro publicou, em primeira página, motivado pelos acontecimentos em torno
do episódio da investida da UMC contra Collor, um longo editorial historiando a
liberdade religiosa no Rio Grande do Sul.
[75] Deutsche Post, São Leopoldo, 12 de
dezembro de 1927. Der Wegweiser,
Porto Alegre, 22 de dezembro de 1927.
[76] Der Wegweiser, Porto Alegre, 17 e 23 de
fevereiro de 1927.
[77] Deutsche Post, São Leopoldo, 19 e 23 de
fevereiro de 1927.
[78] Correio do Povo, Porto Alegre, 1º de
março de 1927.
[79] A Federação, Porto Alegre, 26 de
fevereiro de 1927.
[80] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 11
de abril de 1927.
[81] O Seminário, São Leopoldo, ano IV, nº 3,
1929, p. 74.
[82] Estrela do Sul, Porto Alegre, 1º e 29 de
janeiro de 1928.
[83] Estrela do Sul, Porto Alegre, 26 de
fevereiro e 20 de março de 1928.
[84] Diário de Notícias, Porto Alegre, 5 de
maio de 1928. Estrela do Sul, Porto
Alegre, 13 de maio de 1928.
[85] Estrela do Sul, Porto Alegre, 24 de
junho de 1928.
[86] Estrela do Sul, Porto Alegre, 16 de
setembro de 1928.
[87] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 18
de agosto de 1928.
[88] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 22
de agosto de 1928.
[89] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 8
de setembro de 1928.
[90] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 8 de
setembro de 1928.
[91]
Não foi possível determinar o significado dessa expressão.
[92] Neue Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 12
de setembro de 1928.
[93] Deutsches Volksblatt, Porto Alegre, 14
de setembro de 1928.
[94]
No dia 13 de setembro haviam sido festejados com grande destaque os 20 anos de
episcopado de D. João Becker.
[95]
"Pfui!" é uma exclamação que denota forte sentimento de nojo em
relação a alguma coisa.
[96]
Sobre esse episódio, cf. Gertz, René E. "O nativismo, os teuto-brasileiros
católicos e luteranos no Rio Grande do Sul". Revista de Ciências Humanas, UFSC, Florianópolis, vol. 16, nº 24,
1998, p. 43-60. Para uma interpretação que se aproxima da minha, cf. Prien,
Hans-Jürgen. Evangelische Kirchwerdung in
Brasilien. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd Mohn, 1989, p. 305.