Em Busca da Trindade um estudo antropológico sobre uma romaria goiana

Silvana S. Nascimento*

Minha comunicação apresentada brevemente neste Simpósio fala sobre a pesquisa que estou realizando no mestrado pelo departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. José Guilherme Cantor Magnani. Meu trabalho está voltado para uma romaria goiana que se dirige todos os anos para uma das festas populares mais importantes do Estado: a Festa do Divino Pai Eterno, no santuário de Trindade, localizado a vinte quilômetros de Goiânia. Os romeiros partem de Mossâmedes[1], município a sudoeste do Estado, e viajam durante uma semana em carros de boi até chegar ao santuário.

Todo ano, a grandiosa Festa do Divino Pai Eterno – representação popular da Santíssima Trindade – atrai 200 a 300 mil romeiros de diversas regiões do país e, entre eles, mais de 10 mil chegam em carros de boi. Estes, os chamados carreiros, participam de um desfile que promove a abertura da festa, geralmente na primeira quinta-feira do mês de julho. São quatro dias de festividades sem contar a novena.

Desde o final do século XIX, o santuário está sob a direção dos padres redentoristas. Estes, durante a festa, realizam missas de hora em hora, confissões, e todas as manhãs as chamadas procissões da penitência. Paralelamente às atividades propriamente religiosas, a cidade fica repleta de camelôs, barracas de comida, jogos e parque de diversões. Os redentoristas também estão na direção de outros grandes centros de devoção brasileiros, como Aparecida do Norte, em São Paulo e Bom Jesus da Lapa, na Bahia. No entanto, o santuário de Trindade não vive do movimento dos romeiros o ano inteiro como acontece, por exemplo, em Aparecida. Ele só se concretiza como santuário no momento em que vive a Festa. Fora deste período, Trindade volta ao ritmo habitual de uma cidade do interior[2]. No cotidiano, há apenas um movimento razoável de romeiros aos domingos, principalmente de Goiânia, para assistir à primeira missa do dia na Igreja do Santuário Novo.

Pela etnografia

Em relação ao meu trabalho, pretendo aproximar-me do que a antropóloga Mariza Peirano chama de prática etnográfica – uma pesquisa artesanal, microscópica e detalhista – que procure dialogar os dados das observações de campo com a teoria da disciplina antropológica. Mas sem entrar em pormenores sobre as discussões a respeito da produção científica da disciplina, quero afirmar apenas que o fazer etnográfico não é uma tarefa fácil, além do mais que, nas palavras de Peirano, “se a antropologia está sempre em construção, cada monografia é sempre artesanal e incompleta” (1995: 147).

Assim, comparando os resultados das pesquisas de campo[3] com algumas teorias pertinentes sobre o tema na dissertação de mestrado, procuro entender o diálogo que a romaria estabelece entre uma cultura tradicional, ou melhor, caipira no sentido de Antonio Candido (1987), como uma manifestação cultural tradicional do homem do campo, e uma cultura das cidades, que é construída especialmente durante a Festa no santuário.

Antes de mais nada, tenho como pressuposto que a romaria não deve ser considerada uma “sobrevivência” do catolicismo tradicional ou “rústico”. Não se observa, principalmente no Brasil, uma diminuição ou decadência destas festas e romarias populares. Pelo contrário, naquelas que acontecem em santuários e centros de devoção — Trindade (GO), Aparecida do Norte (SP), Nossa Senhora da Penha (RJ), Pirapora do Bom Jesus (SP),  Senhor do Bomfim (BA) — o que se percebe é uma gigantesca congregação de fiéis. Miguel Santos (1975), em sua dissertação de mestrado sobre o santuário de Trindade, em Goiás, aponta para o crescimento das romarias particularmente para Trindade. Este crescimento, segundo o autor, acompanha o processo de urbanização: primeiramente quando a capital é transferida para Goiânia, em 1934 e, posteriormente, quando a sede federal transporta-se para Brasília, em 1956[4].

Então, partindo deste pressuposto, considero a romaria como uma prática que engloba a dinâmica do tradicional e do moderno, do religioso e do secular, sem perder a sua especificidade. Para mim, romaria não é apenas uma manifestação do catolicismo popular. Alguns aspectos ligados a um estilo de vida tradicional, que inclui o catolicismo rústico, persistem ao lado de outros novos, ligados a uma cultura das cidades, na qual se aproxima a dinâmica do santuário de Trindade especialmente durante a Festa. A romaria mantém elementos tradicionais dessa forma de devoção e, ao mesmo tempo, não está fechada nem vulnerável às transformações que provêm de um mundo urbanizado.

Em minha pesquisa, na qual procuro elaborar uma abordagem etnográfica, pretendo levar em conta três diferentes dimensões da romaria: a travessia, ou seja, a viagem propriamente dita, o santuário e o lugar de origem dos romeiros. Essa estrutura tríade da romaria permite compreendê-la como um processo que articula diferentes práticas, padrões e crenças em situações e lugares diversos. Desse modo, selecionei algumas questões-chave que perpassam cada uma dessas situações, para indicar, ainda que de forma provisória, minhas interpretações a respeito da dinâmica da romaria.

1 – Rede de sociabilidade

Na romaria, viajam aproximadamente quarenta famílias que vivem da pecuária leiteira em pequenas propriedades na zona rural. Mesmo aquelas que moram na cidade também trabalham nesta mesma atividade, seja em suas próprias terras seja seja em outras propriedades como diaristas[5]. Na verdade, grande parte da economia do município de Mossâmedes está baseada na agropecuária – cultura de arroz, milho e feijão, e pecuária leiteira e de corte.

Na romaria, entre essas famílias, cria-se uma rede de sociabilidade que redimensiona as relações familiares e de vizinhança. Por um lado, nos pousos, a família se une num mesmo espaço, na barraca, para passar a noite ao final de cada dia da viagem. Cada família – que abriga uma família extensa, composta de uma ou várias famílias nucleares[6] – dorme e come junto na mesma barraca. É uma situação peculiar em relação ao cotidiano, em que cada família nuclear possui a sua própria casa e, muitas vezes, a sua propriedade. Na romaria, as relações familiares intensificam-se e a convivência nas barracas permite uma aproximação espacial entre avós, pais, tios, filhos, primos, netos.

Fora das barracas, algumas mulheres organizam as rezas, que procuram reunir os romeiros depois do jantar para as orações. Essas rezas comunitárias existem há mais ou menos 10 anos, com incentivo da Diocese de Goiás para a criação de Comunidades Eclesiais de Base[7]. Anteriormente, cada família fazia suas orações individualmente. Hoje, no entanto, alguns leigos incorporaram algumas características do movimento da Teologia da Libertação, estimulando os participantes da romaria a expressarem suas opiniões sobre essa experiência e sobre a leitura do Evangelho do dia. Todavia, o caráter político e militante originário do movimento perdeu-se, pelo menos é o que mostra a situação religiosa atual da romaria. De qualquer forma, as rezas são um importante fator de sociabilidade nas quais os romeiros podem ampliar suas relações sociais para fora do âmbito da intimidade familiar. Desse modo, posso afirmar que a romaria é predominantemente um lugar de encontro.

Por outro lado, na estrada, a família que estava unida na mesma barraca, se separa: os homens têm que conduzir os carros de boi, exercendo o trabalho de carreiro, e as mulheres podem ficar ou dentro dos carros ou andando em grupos, na frente. Este é um caso interessante que merece ser descrito: as mulheres andam em grupos de 5 a 10 pessoas, em que a presença masculina é quase nula. As solteiras preferem se distanciar das casadas porque a viagem é um momento propício para paquerar e namorar os rapazes. No grupo das “moças” pode-se observar, vez ou outra, um rapaz a cavalo rondando-o, conversando, sorrindo, procurando talvez uma pretendente. As casadas, por sua vez, contam piadas e trocam fofocas entre as quais sempre existe uma história de adultério[8].

Certa vez, neste grupo, uma das mulheres que nos primeiros dias andava a pé resolveu acompanhar o marido, ao lado do carro de boi, e foi alvo de comentários como “ela não larga o marido”. O fato de “largar o marido” durante a caminhada é especial, já que o casamento, para essas mulheres, implica permanecer em casa a maior parte do tempo. No caminho, entre um pouso e outro, abre-se uma brecha para as mulheres casadas “largarem o marido”, para as moças encontrarem com rapazes sem a presença da família, para os homens mostrarem sua masculinidade nas cavalgadas e seus dotes de carreiro guiando os bois de carro.

Um outro fator importante de sociabilidade é a comida. Um romeiro disse-me uma vez que estava triste porque sua mulher não poderia ir para a romaria com ele. Falou: “Vai faltar o arroz quentinho pra mim”. Ora, o que está por trás do seu discurso não é apenas a valorização da família permanecer unida na romaria, mas também da importância comida. Na romaria, a comida é compartilhada e celebrada. Durante a viagem, os romeiros oferecem-se mutuamente bolos, doces, guloseimas.

Os alimentos que são levados na viagem não são os mesmos que aqueles consumidos no cotidiano. As carnes são cozinhadas e conservadas na gordura de porco, e são armazenadas em latões para durarem duas a três semanas na temperatura ambiente. Elas também são aproveitadas para fazer uma paçoca salgada, com farinha de rosca. Os bolos e doces são confeccionados especialmente para a viagem numa consistência firme para agüentarem o balanço constante dos carros de boi: bolacha de tribo, biscoito de polvilho, de queijo, broa de fubá, doce de leite, queijadinha, pé-de-moleque, paçoca de amendoim, doce de limão, etc. Na romaria, a comida é de festa.

Esta rede de sociabilidade que emerge no período da romaria também permite o surgimento de novas relações entre pessoas com atividades e modos de vida diferenciados no cotidiano, e, ao mesmo tempo, uma intensificação dos laços dentro das famílias. Na romaria, convivem lado a lado, o fazendeiro e o agregado, o patrão e o empregado, gente da roça e gente da cidade.

2 – A lógica urbana do santuário

Se, nos pousos e no caminho, as relações sociais são movimentadas para dentro da própria sociedade, reforçando laços de parentesco e de vizinhança, por sua vez, no santuário de Trindade os romeiros de Mossâmedes se incorporam a uma outra lógica, ligada à uma cultura tipicamente urbana.

Trindade reproduz o perfil característico dos maiores centros de devoção brasileiros. Durante a festa, atrai uma multidão para visitar a imagem, participar das missas e das procissões. Além disso, há um gigantesco comércio de ambulantes e barracas de comida e jogos.

Foi a partir do Vaticano II (1962 e 1965) que os padres do santuário passaram a fazer as celebrações sem interferir abertamente nas formas de religiosidade popular. Hoje a proposta dos padres está voltada somente para as celebrações nas igrejas, para as confissões e as procissões da penitência, todas as manhãs.

Até poucos anos atrás, os romeiros de Mossâmedes iam às missas apenas esporadicamente porque, para eles, bastava visitar a imagem do Divino Pai Eterno. Mas, nos últimos dois anos, os redentoristas criaram a “Missa dos Carreiros e Foliões” – voltada especialmente para quem chegou em Trindade em carros de boi e em folias – que aumentou o interesse dos fiéis. Atualmente, os carreiros vão a esta missa com suas varas de ferrão, os foliões com seus instrumentos e bandeiras, e ambos os grupos participam ativamente de alguns momentos da celebração: os foliões fazem a abertura, com cantorias, e alguns carreiros sobem no altar para fazer algumas leituras durante a cerimônia.

Para atrair um maior número de devotos, os redentoristas também incorporaram o uso dos meios de comunicação de massa para a divulgação da festa. Rádios de Goiânia instalam-se no santuário para fazer a cobertura do evento e há projeções de videoclips na praça da Igreja Matriz. E, dentro da Sala dos Milagres, além do cenário tradicional de fotografias, quadros, pedaços de cabelos, muletas, aparelhos ortopédicos, cadeiras de rodas, cruzes dos mais variados tamanhos, objetos pessoais, cabeças, braços e pernas feitos de cera, tudo oferecido ao Divino Pai Eterno por promessas cumpridas e graças recebidas, há stands com projeções de vídeo organizadas por empresas especializadas com imagens da festa, da cidade e especialmente das romarias de carros de boi. Além das fitas de vídeo, estão à venda também imagens de santos, lembranças, terços, chaveiros, etc. Assim, da mesma forma que o devoto pode sensibilizar-se com a realização de pedidos pela crença ao Divino Pai Eterno nos depoimentos dos fiéis expostos na sala, ele também pode distrair-se com a projeção animada das imagens da festa.

O aspecto multimídia da festa também se expressa na homepage do santuário de Trindade na internet (hhtp:www.persogo.com.br/sdpaieterno). Pode-se conhecer uma breve história do santuário e da consagração ao Divino Pai Eterno, ler o informativo mensal dos redentoristas e enviar correspondências.

Além das atividades religiosas, para o grupo de Mossâmedes, uma das maiores atrações são as barraquinhas. A cidade torna-se um gigantesco camelódromo. Há produtos para todas as idades, gostos e necessidades: roupas, sapatos, fitas cassete, aparelhos eletrônicos, utensílios domésticos, etc. Os romeiros de Mossâmedes fazem passeios diários pelas barracas, contemplam os produtos vendidos e pesquisam preços. Muitas vezes, os passeios pelo santuário, quando já se visitou a imagem e assistiu-se a alguma missa, resumem-se aos camelôs.

A importância atribuída aos bens de consumo em Trindade não se limita ao aspecto econômico. Os produtos adquiridos possuem uma carga duplamente sagrada. Primeiro, a importância dos objetos está no lugar em que estão sendo comprados. Um camelódromo montado no santuário, num contexto de festa, ganha um significado especial para os consumidores romeiros. Segundo, os produtos fascinam pela enorme variedade e preço. Trindade, durante a festa, oferece para a população que vêm do interior do Estado, que mora na zona rural ou em pequenas cidades, uma variedade de bens de consumo que só encontrados naquela quantidade e preço barato[9] nas grandes cidades. Assim, o santuário torna-se não apenas um centro religioso mas um pólo de consumo[10].

3 – A reprodução do modelo da romaria

No lugar de origem dos romeiros, em Mossâmedes, há uma festa religiosa popular que dialoga diretamente com a romaria para Trindade: A Festa do Divino Espírito Santo. Esta festa, que acontece no final de agosto na cidade de Mossâmedes, não se caracteriza por uma Festa do Divino nos moldes tradicionais. Não há mais festeiros que organizam as festividades nem Imperador do Divino. O que restou dos festejos mais antigos foi somente a “Folia”. Há dois grupos de foliões dentro da cidade que circulam na zona urbana e entregam a bandeira no sábado. Antigamente, os foliões “giravam” nas fazendas a cavalo e viajavam dias convidando os moradores da zona rural para a festa na cidade. Do lado das atividades “oficiais” da Igreja, realizam-se novenas nas fazendas e na cidade; e, logo depois das orações, o tradicional leilão.

Mas o interessante é que há oito anos foi inventada uma romaria que parece ser uma reprodução em miniatura daquela que acontece para Trindade[11]. São praticamente os mesmos carreiros que participam dela, junto com romeiros de municípios vizinhos. Eles saem de suas casas da zona rural pela manhã e unem-se a eles os que moram na cidade, chegando em Mossâmedes no dia seguinte. Nesse dia, há também um pequeno desfile dos carros de boi. Uma das praças da cidade fica cheia de barraquinhas, cujos produtos vendidos são semelhantes aos da Festa do Divino Pai Eterno, só que em proporções bem menores.

Importante ressaltar que, em Goiás, festas tradicionais com romaria não acontecem apenas em Mossâmedes. Outros cidades também estão promovendo romarias de carro de boi, como é o caso de Anicuns, vizinha a Mossâmedes, que tem organizado uma romaria durante a Festa de São Francisco de Assis, no final do mês de setembro.

4 – Romaria como ritual de visita à cidade: fragmentos de conclusão.

Segundo Carlos Rodrigues Brandão, até a década de 70, a maioria dos habitantes da zona rural de Mossâmedes iam para a cidade apenas durante as festas de santo: de  São José, padroeiro de Mossâmedes, e do Divino Espírito Santo. A visita à cidade de Mossâmedes fazia-se apenas por intermédio das festividades. Eram as únicas ocasiões de encontro com parentes, compadres e amigos da cidade; de compras de objetos e participação em formas de lazer “da cidade”. Atualmente, em que a circulação dos moradores “da roça” na zona urbana é bem mais freqüente, a visita à cidade é ritualizada por meio das romarias.

A reprodução do modelo de romaria em outras festas tradicionais da região evidencia que essas manifestações do catolicismo popular estão sendo redefinidas: elas incorporaram as novas modalidades de festividades modernas mas não deixaram de ter como parâmetro a sua tradição e a sua memória. A minha sugestão, ainda que provisória, é de que, quando lhes foi conveniente, essas festas “urbanizaram-se” e trouxeram da cidade elementos para reelaborar suas tradições, provenientes da zona rural, e vice-versa.

A análise da dinâmica da romaria para a Festa do Divino Pai Eterno comprova a interpretação feita acima. A romaria faz a ligação e põe em movimento elementos que pertencem ou não à cultura caipira tradicional. Ela amplia a rede de sociabilidade para fora da esfera do município e do círculo familiar e de vizinhança. Enfim, importa dizer que a romaria para Trindade possibilita uma experiência urbana singular. Durante a Festa, o santuário, localizado na região periférica de Goiânia, transforma-se na “capital da fé”, representação de uma cidade ideal que oferece, além das graças do Divino Pai Eterno, serviços metropolitanos.

Referências Bibliográficas

PEIRANO, Mariza. (1995) A favor da etnografia, Relume Dumará, Rio de Janeiro.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (1982)  “A Festa do Espírito Santo na Casa de São José” in Religião e Sociedade n. 8.

CANDIDO, Antonio. (1987) Os Parceiros do Rio Bonito, Duas Cidades, SP, 7a ed.

FEATHERSTONE, Mike. (1995) Cultura de consumo e pós-modernismo, SP, Nobel

FERNANDES, Rubem Cesar. (1983) Os cavaleiros do Bom Jesus, Brasiliense, SP

IOKOI, Zilda Grícoli. (1996) Igreja e Camponeses Teologia da Libertação e Movimentos Sociais no Campo, Hucitec/Fapesp, SP

MAGNANI, José Guilherme C. (1998) “Transformações na cultura urbana das grandes metrópoles” in Alberto da Silva Moreira (org.) Sociedade Global Cultura e Religião, Vozes, Petrópolis.

NASCIMENTO, Silvana S. (1997) - “Sagradas Travessias em Busca da Trindade” in Sexta Feira, n.1, SP

_____________ (1998) “A Romaria do Divino Pai Eterno” in Travessia – revista do Migrante, ano XI, n. 31, CEM, SP.

PIRES, Francisco V., (1978) A Romaria Urbano-Industrial, tese de mestrado da Escola de Sociologia e Política, SP

STEIL, Carlos A. (1995) O sertão das romarias - um estudo antropológico sobre o santuário de Bom Jesus da Lapa - Bahia, tese de doutorado, Museu Nacional/UFRJ, RJ



* Silvana S. Nascimento é mestranda em Antropologia da Universidade de São Paulo, pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana (NAU/USP) e bolsista do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

[1] Mossâmedes tem aproximadamente 6500 habitantes.

[2] Até a década de 70, a principal atividade econômica de Trindade era a agropecuária. No entanto, atualmente, a economia da cidade vive da indústria de derivados do leite e da carne e refrigerantes.

[3] Realizei pesquisas de campo em diferentes momentos, dentro e fora do período da romaria. Acompanhei três vezes a viagem dos romeiros ao santuário, e depois retornei ao município de origem, Mossâmedes, para perceber a importância da romaria na vida cotidiana dos seus participantes.

[4] Trabalhos recentes como o de Carlos Steil (1996) sobre o santuário de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, reafirmam que esta manifestação religiosa tradicional de caráter popular não está desaparecendo. Pelo contrário, vê-se um aumento do número de romeiros nas últimas décadas.

[5] Existem ainda romeiros que exercem outras ocupações, principalmente no serviço público da cidade de Mossâmedes.

[6] O termo família extensa usado aqui se refere a todos os parentes, com laços de parentesco comuns. E família nuclear refere-se especificamente ao pai, à mãe e seus filhos.

[7] As Cebs (Comunidades Eclesiais de Base) proliferaram-se no Brasil, na década de 70, como uma resposta à ditadura militar, propondo, dentro da Igreja Católica, uma prática social e uma posição ideológica voltadas para as bases, para as camadas populares. Elas “significaram uma mudança efetiva na prática pastoral, com inequívoca abertura para as questões sociais, gerando também mecanismos de formação de militância político-partidária” (Prandi e Souza; 1996: 69).

[8] Outro assunto recorrente são os mortos. Os lugares de passagem incitam a lembrar daqueles que já passaram por lá, que ali moravam ou lá morreram.

[9] Por exemplo, em Mossâmedes uma calça jeans pode custar R$ 40, 00 e, em Trindade, uma da mesma marca e qualidade, custar R$ 10,00.          

[10] O “consumo” deve ser entendido aqui em suas múltiplas facetas: como atividade cultural de lazer, religiosa e comercial (Featherstonte; 1995).

[11] Ela teve início em 1991 para comemorar a  visita do bispo Dom Tomás Balduíno, da Diocese de Goiás, na cidade durante o evento das Santas Missões. Depois da visita do bispo, parece que os carreiros de Mossâmedes gostaram da idéia e passaram todos os anos a fazer esta romaria durante esta festa.